"Hoje acordei cinza Dentro de mim... Mateus Ribeiro de Aquino
"Hoje acordei cinza
Dentro de mim morava o desassossego
Morava a inquietude por algo que nunca vi
Acordei minhas pernas e sai em busca do nada
Passei por uma moça que fazia da rua sua casa e sua cama de pedra lhe aquecia do calor insuportável que me queimava a roupa.
Me sentia despido perto de tanta falta
Passei por algumas centenas de pés enquanto vagava por horas atrás do incerto
Pés esses que andavam depressa
Que sem dúvida eram mais rápidos que meus olhos
Pés descalços que se queimavam ao tocar na cama da moça de pedra.
Me senti invadindo um espaço que deveria ser de todos
Mas até ai a palavra dever já havia sido enterrada possivelmente bem longe daqui
Talvez em outro país
Mas eu nunca sai daqui
Parei no meio daquilo tudo e olhei pro céu
Não é que ele ainda estava lá
Ele era chuva, ele era como eu
Mas era cinza por fora enquanto assim era lá dentro de mim.
Será que longe ele ainda é azul?
Os canhões da cidade nunca vão nos deixar saber
Eles não deixam escolha, ser cinza já era obrigação
E não saber se ia chover já era normal
Essa sombra negra que se confundia as nuvens já era o que nos cercava a cabeça a tempos
Mas os pés eram rápidos demais pra enxergar.
Palmei meus ouvidos, me enrolei no meu corpo dormente, ainda de olhos trancados, e por um segundo descobri o que me inquietava
Lembrei o que me faltava
Era a paz, que a tempos não vinha nos visitar
E que possivelmente já havia ido embora
Junto com o dever
Junto com a moça
Junto com os pés
Junto com o céu
E junto com o meu sossego.
Agora vou procurar por esse lugar onde eles foram parar
E se um dia você quem os encontrar
Não me avise
Aproveite o que é quieto
Por que se eu os achar
Prefiro matar meu desassossego primeiro
Do que perder mais uma vez pra quem deles não sabe cuidar"
Mateus Ribeiro de Aquino
@mateusribeir0