BATALHA DE CORPOS NO AMOR Dá-me o teu... Adriano Soares da Costa
BATALHA DE CORPOS NO AMOR
Dá-me o teu gosto, teu cheiro, num momento suspenso.
Dá-me um abraço silencioso, em que só haja o pulsar do coração.
Nada mais exista nesse agora. Só o sentir de almas e corpos.
E mãos que se deixam viajar sem rumo nem pejo.
Dá-me teu olhar. Que ele, em chamas, me esquente o sangue.
Seja sem culpas, sem medos, sem religião nem credos.
Olhar de quem tem fé na revelação daquele instante profundo.
Dá-me tua boca. Faz-me sentir a fome em teu beijo,
O apetite infame do desejo rasgando cada fibra de teu corpo.
Um beijo descortinando o querer sem castidade e sem trégua,
Em línguas devassas e imprudentes, que apontam a perdição do que virá.
Deixa que teus seios se avolumem num abraço grave e constante;
Faze-me senti-los tomados em minha mão sem escrúpulos.
E neste instante delicado, que sejam compreensíveis os botões da tua blusa,
Soldados sem forças para impedir a tomada das torres e cidadela.
E que fartos ante meus olhos, se permitam tragar em demasia,
Sorvidos como fossem morangos maduros saciando um famélico.
E na circunstância indômita, florete já na mão adversária, tudo se permita.
Dá-me, nessa guerra intensa, uma derrota justa, rosto perdido em teus pomares,
Onde sinta o cheiro e gosto de fruta orvalhada por rios que molham tuas planícies.
E me faça morrer de queimadura de primeiro grau, ao invadir teus territórios,
Sem piedadade, em luta corporal insana, desnuda, inopinada.
Seja-me permitida uma pugna até as últimas energias, em que percorra
Todas as tuas instâncias, sem tréguas nem respeito, em idas e vindas profundas.
E assim sendo, que não haja território não percorrido, nem batalha que não tenha sido travada.
Que tua vitória seja absoluta, subjugando meu corpo desfalecido entre tuas pernas.
E num momento de misericórdia, que teu coração de mulher acalante o derrotado,
Tomando-me em teu peito, num último gesto de vitória e piedade.
E assim, em tuas mãos, já dominado, faz-me teu escravo, como espólio de uma guerra consumada.
Deixo-me teu, assim, inteiramente e para sempre, dominado por teus beijos.
(Junho/2018)