Quem eu sou? E quem escolho ser? Não... Arcise Câmara
Quem eu sou? E quem escolho ser?
Não dava valor ao que tinha, vivia comendo doces, era difícil ver o doce como algo tão danoso, às vezes o melhor modo de amar e ajudar uma pessoa é deixá-la em paz ou dar-lhe a chance de tentar ser do jeito que ela é.
E o que o doce e o amor têm em comum?
Às vezes se acredita que uma pessoa está realmente tentando ajudar outra, mas na verdade ela está apenas alimentando a vontade de comer doce sem se sentir culpada.
A dificuldade é que bondade, justiça e questões morais não são políticas, pagar mais barato pelas coisas era algo que envolvia riscos, pensar só em si destruía a Moralidade. Era preciso impor e promulgar uma lei “amem uns aos outros”.
Sou do tipo que falo de maneira automática e casual, a legislação não é simplesmente uma concordância a respeito do que é certo e errado, tem umas infinitude de mãos abanando, tentando inutilmente ter suas necessidades mais básicas atendidas.
As leis que proíbem assassinatos, fraudes, danos é mesmo um avanço, fico trêmula só em pensar que é preciso proibir coisas tão óbvias. Que tipo de glória é obtida quando ela é atingida à custa dos outros? Cheguei ao limite do nojo, como posso viver na dúvida ou sem compaixão?
Não desejo coisa alguma, tenho preferências, mas não necessidades. De vez em quando meu humor dita o clima, às vezes acho que o mundo não evoluiu e ainda opera com uma mentalidade primata, outras vezes desfaço-me de desculpas acerca das diferenças, dos sinais sadios de individualidade.
A gratidão suplantada pelo medo, mesmo quando eu lhe apresento uma opção, uma ideia, uma opinião, você não tem toda a vida para concordar ou discordar, tudo é um processo de recriação, hoje pode, amanhã não.
Eu me sinto inconveniente e culpada, uma nova pessoa por dentro e por fora, detesto a ideia de enterrar alguém, eu me reconciliei não só com quem eu era, mas com quem sou e com quem quero ser, desanimo com facilidade e preciso acreditar na própria capacidade de hora se de um jeito e poder mudar a qualquer momento.