Metade de mim Nem tudo em mim é pureza... Lenita Melo
Metade de mim
Nem tudo em mim é pureza ou ternura.
Parte de mim é temor e a outra bravura,
Parte de mim é curiosidade e a outra loucura.
Sou livro de cifras, sem manual ou gravura.
Mas ao mesmo tempo sou simples, feita por Deus como toda criatura,
do mesmo material, forma e textura.
Sua imagem e semelhança; por fora, a mesma espécie e estrutura.
Mas por dentro não, e comparar seria em vão.
Dentro de cada ser, cabe um universo
Por isso seria perverso
Julgar o poeta lendo somente o primeiro verso.
Para os que insistem, o motivo eu expresso:
Se erro é porque não sei escolher direito!
Então penso um pouco a respeito,
e percebo que não nasci pra ser predicado e sim sujeito.
Entendi que quem me guia não é a razão, e sim o que bate no peito,
Foi aí que ganhei o direito de ser imperfeito.
Passional demais pra levar a vida com brandura,
não temo a queda,
Mas sim o desamino e a amargura.
Por que parte de mim é fogo, apesar da queimadura
a outra é brasa, esperando aumentar a temperatura.
Então não estranhe meu jeito estranho de querer bem
Só sou assim, porque metade de mim é amor...
e a outra também.