Às vezes a única coisa que precisamos... Maria Luísa Júdice
Às vezes a única coisa que precisamos fazer é chorar, ser sujeito da própria enchente. Presenciamos injustiças frequentes, mas a pressa cotidiana nos obriga a engolir e aceitá-las. Eles dizem para ficarmos felizes sempre: sorriso; cumprimento; conversas de ônibus. Que agonia!
Nós, moradores de nós mesmos, enfrentamos chuvas e tempestades, e até terremotos pela esquina, e aos poucos as consequências surgem. Porém, em cada pouco há uma dor profunda e uma noite mal dormida, e o que fazemos diante isso é omitir e cada vez mais mentir. Mentiras com olhares profundos de perdição, que ninguém compreende ou até se preocupa.
Estamos atrasados para os dias. A ideia de falsa felicidade nos cega e nos suga, e o tempo não espera, no final que é presente assistimos ao egoísmo e ao egocentrismo sem sequer nos olharmos no espelho e buscarmos melhoras ao notar semelhanças com quem tanto julgamos.
Todos sofremos e temos diferentes formas de desabo, mas não há ninguém para uma conversa e um abraço, pois todos estamos medrosos de cair na tentação da tristeza.
O sistema que nos envolve nos faz pensar que não temos tempo para lágrimas e é esse o motivo maior de querermos escondê-las e fingirmos que não há razão para tê-las. E a consequência disso? Está na intolerância e inconsequência: pois acabamos por nos cegar com uma felicidade passageira, achando que ela nunca acabará; e por não ver seriedade nas fragilidades do outro, achando que é passageiro. Além da felicidade e bem estar forçados e robotizados, interpretados apenas para cobrir nosso senso de injustiça e nossa verdade, falsificando cada vez mais as relações.
É de paradoxos que estamos vivendo a vida