SOMOS! Terceirizando a qualidade... João Starkaiser

SOMOS!
Terceirizando a qualidade essencial de nossa existência para engenhos mecânicos que promovem a virtualidade, vivemos numa era em que nossos momentos mais significativos, paralelamente aos nossos afazeres mais triviais, com registros ativos e passivos documentados em bancos de dados de memória com toda nossa vida inserida neles e distribuídos globalmente numa revisão contínua da nossa compreensão dos elementos principais do que significa ser humano com lembranças reproduzíveis, redefine nossa humanidade e influencia profundamente nosso futuro.

O desenvolvimento da ciência com novas descobertas, novos conhecimentos e novas disciplinas acomoda uma nova visão de nós mesmos e do nosso lugar no universo que propõe uma mudança em quem somos num mundo ocupado por falsidade, trivialismo e mitos.

No decurso de grande parte do século passado, através de observações cosmológicas, o conceito da uniformidade do universo e da singularidade das leis da física orientou o raciocínio científico.

Apesar de a mecânica quântica ser considerada uma teoria bem sucedida e o fundamento para a compreensão de toda a física, à exceção da gravidade, não oferece uma descrição completa da natureza. Também, nem sempre atribui um valor preciso a uma propriedade física, porque, dentro do amplo espectro de interpretações que oferece, não descreve uma realidade externa, e as propriedades só acontecem no pensamento do observador. Tampouco, os fisicistas entendem os fenômenos quânticos, pois, somente propicia prognósticos relativos aos resultados das experiências. Deve haver outra explicação mais transparente a ser descoberta.

O avanço da biologia adquirindo instrumentos que tornarão a forma humana mais modelar reprogramando tecidos humanos, possibilitando novas habilidades na reparação e regeneração do corpo humano, deixa entrever a possibilidade futura de ir além da restauração de corpos danificados, e possibilitar mudanças de segmentos e unidades em novos recursos e propriedades da estrutura, crescimento, funcionamento e reprodução de nosso organismo, aos poucos, nos livrando dos limites da forma fixa humana.

O progresso da neurociência expondo a mente como um produto do cérebro, defendendo que uma questionável série de casualidades improváveis de condições levou aos meios indispensáveis para o surgimento da vida, nossa espécie e civilização tecnológica, através da espontaneidade, o fenômeno da bio informação e a auto-organização como a união do princípio máximo de ação que, supostamente, deu origem a vida, e que a identidade humana emerge gradualmente durante o desenvolvimento, põe em cheque as noções tradicionais e quase universais da espiritualidade das crenças confinadas às racionalizações e conceitos das pessoas sobre a Vida antes da vida, o após a morte e a recompensa e punição definitivas.

A despeito da curiosa ciência da computação ignorar, e até mesmo se opor aos princípios do resto da ciência, a interatividade informática como ficção científica vem enfraquecendo seus princípios conceituais. Apesar das maravilhas industrializadas atuais, como carros auto dirigidos, entre tantos outros apetrechos modernos, estamos muito distante das máquinas "auto conscientes”, e não há chance de uma inteligência artificial substituir a era humana, pois, nenhum equipamento mecânico do computador está acelerando em nenhuma direção exponencial que supere o poder computacional de um cérebro e o controle humano.

Do manejo inicial da pedra e do fogo, o homem moderno lida com ferramentas sofisticadas que possibilitam avanços extraordinários à sua cultura, saúde e bem-estar. Estamos em uma nova era de medicina personalizada, e nossos genes causadores de doenças cardíacas, oncogenes que promovem câncer de próstata, câncer de mama e causam estresse e infecção, podem ser alterados quando mudamos nossos hábitos. Portanto, nossos genes não são nosso destino! Tampouco, a ciência representa nossa essência!

Sendo a realidade independente das reivindicações científicas, devemos abandonar as observações de cientistas como verdades objetivas, pois, algumas são verdadeiras, mas a maioria depende de tantas condições iniciais, que as colocam no limiar entre a realidade e a ficção.

Por outro lado, o surgimento da ciência como uma instituição não inteiramente supersticiosa e corrupta está, aos poucos, trazendo a atenção do ser humano para problemas imediatos, cujas soluções dependem do rápido progresso em ciência e tecnologia.

Na incognoscível possibilidade de sabermos a verdade de nossa origem, razão de ser e paradeiro, nos tornamos em contadores de histórias e experiências sem conhecimento do resultado de nossa narrativa. Assim é a ciência, que fará tudo ao seu alcance para suprimir a alma. Contudo, a verdade não reside entre a diferença de perspectivas. A verdade tem seu lugar próprio e singular no início e no fim de tudo e do todo existente!

Apesar das limitações da compreensão atual, é válido repensar o que significa ser humano. Também, mais do que nunca, é essencial ponderarmos sobre nossa condição com relação ao mundo que nos rodeia e nosso estado como o único ser que faz acontecer e compreende suas ações e reações.