O que o homem quer? Se alguém tenta se... Fábio Silva

O que o homem quer? Se alguém tenta se santificar, é "santarrão" demais. Se alguém comete pecado é pecador, e os "erros" são apontados. Se chove, o tempo está ruim. Se faz calor, está quente demais. Se neva, a neve é bonita mas faz muito frio por este espetáculo. Se o homem trabalha muito, só pensa em trabalhar e morrerá sem levar consigo "NADA". Se se liberta do sistema "escravocrata", então é vagabundo. Se anda no meio termo de tudo, é equilibrado demais e será invejado por isso. Se é bonito também é invejado. Se é feio, é zombado. Deus existe para muitos, apenas quando se atribuem a Ele coisas ruins. Já para outros, Deus é visto apenas como aquele que está por trás de coisas boas. Em suma: o homem NADA conhece, TUDO IGNORA, e toma como verdade as ilusões que inventaram para faze-lo achar que isso é a suprema realidade, finalidade primeira e última da existência. A maioria, na verdade, não sabe para quê nasceu, porque existe, para aonde está indo e finalmente onde irá parar! Um amontoado de cabeças ocas, confusas e obtusas que, para as questões elementares da vida, NÃO achou resposta absoluta! Como em certeiras palavras disse Schopenhauer, dando a entender sobre as artimanhas do homem inventadas pela necessidade, a fim de suavizar o peso de sua existência: <Portanto, trabalham, persistem, com toda seriedade, mesmo com um ar importante, tais como as crianças aplicadas no seu jogo>.
"Seriedade" esta que, se bem analisada por perto e a fundo, assemelha-se àquela sensação que sentimos quando estamos dentro de um circo, ao ver as peripécias de um palhaço!
A verdade? Ei-la aí: o homem é um monturo de DÚVIDAS. Uns, atendo-se á investigação dela [da verdade], caminham pelos espinhos, aprendendo a suportar a dor, para serem recompensados com a ROSA. Outros, param e dão à vida uma roupagem disfarçadamente "nova", sob a mesma medida e com cores variadas, a fim de ocultarem a sua própria monotonia!
Ou, nas sofisticadas e refinadas palavras do mesmo Schopenhauer, deveríamos dizer: <Sim, a nossa loucura chega até aí, fazer-nos tomar como alvo supremo de nossos esforços a opinião dos outros; e, contudo, o nada de tal resultado é bastante conhecido; quase todas as línguas o dizem: a sua palavra para dizer vaidade, vanitas, significa vazio, NADA.> (Mundo como Vontade E representação; Livro quarto)
E, continuando, mais á frente, ele mesmo diz no mesmo lugar citado, as brilhantes palavras de Heródoto: <Semelhante é o sentido destas palavras do Pai Da História (Heródoto, Historiae, 7,46), palavras que nunca foram desmentidas: "Não existe um homem a quem não tenha acontecido mais do que uma vez desejar não ter de viver o dia seguinte". De modo que esta brevidade da vida, de que nos lamentamos tanto, seria ainda o que a vida tem de melhor>.
Mas não nos iludamos... como eu disse acima, apenas quem se compromissa a disfarçar o peso da existência, tomando a mentira por verdade, ou fazendo passar aquela por esta, é a maioria! Esta mesma maioria confusa e que no fundo ainda não encontrou o verdadeiro propósito, o cerne universal que é a chave, para se poder abrir a porta da descoberta do propósito da existência do Cosmos! Aliás, Cosmos, significa <belo>; e certamente o que é belo, tem um <significado>. Até lá, falemos sério agora e de forma <específica>, suportemos a crítica do populacho que é bem definida pelo mesmo ínclito filosofo, que me servirá, até, como epílogo deste nosso pequeno monólogo filosófico: <Na verdade, custa a crer a que ponto é insignificante, vazia de sentido, aos olhos do espectador estranho, a que ponto é estúpida e irrefletida, para o próprio ator, a existência que a maior parte dos homens leva: uma espera tola, sofrimentos estúpidos, uma marcha titubeante através das quatro idades da vida, até esse termo, a morte, na companhia de uma procissão de ideias triviais. Eis os homens: relógios; uma vez montado, funciona sem saber por quê>

11:19 h 09.03.2018