Última Poesia Cumpridas devem ser as... Telmo Cordeiro

Última Poesia

Cumpridas devem ser as promessas
O que foi que nos prometemos ?
Nunca prometi nada que eu não te pudesse dar
Se eu soubesse...
Se tu soubesses sentir o aroma das flores murchas
A nossa história não mudou
A sereia é muda, a andorinha nem pode voar
O tempo é a tesoura que passou bem no meio do nosso
laço, sem beijos, apenas um abraço, apenas um beijo
Se tu soubesses...
Se eu soubesse plantar a eterna flor do verdadeiro sentimento
A nossa história mudou
Iguais ingênuos olhares sobre a pedra, visões diferentes sem previsões
Beijo na testa, nenhum de nós voltará a dizer amor
O que nos resta é a retirada com a tremenda dor
Quando a trovoada é forte a terra sente
Quando a chuva é forte a terra ressente
Quando o vento é forte a terra sente
O homem volta ao pó e a terra agradece
Vou-me embora, minha vida está a findar-se
Escrevo para ti as minhas simplórias e últimas palavras
A carta que te prometi
Que a tesoura te traga um homem bom e melhor do que eu, o homem do teu
presente passado
Não esquecerei de ti, mas também não hei de lembrar
Quando até a ti chegar estas escritas, já não estarei por aqui
Lembra-te de que nem a distância eu irei sentir, as saudades não
me afetarão
Esquece tudo...
Esquece de mim
Mas lembra-te de guardar este bocado de papel na caixa de madeira,
com as nossas lembranças, e depois atirá-la ao mar...
Abraça o desapego, troca as lágrimas pelo teu sorriso que me encantou
Quando até a ti chegar estas escritas, já não estarei por aqui
Esta é a minha última poesia...