ESMERALDA Desce a ladeira da Glória... Bessa de Carvalho
ESMERALDA
Desce a ladeira da Glória Esmeralda,
Desesperada e maltrapilha,
No seu pescoço guizos e carretilhas
Balançam num enredo desarrumadas.
Pobre criatura nos carnavais,
Descalça, pés sujos e roupas rasgadas,
Nas ruas cata latinhas amassadas
E as vende por alguns míseros reais.
Gasta com fantasias e lantejoulas,
Ao imitar formosa e conhecida rainha,
Que na verdade perdeu tudo que tinha
Na pobre ideia do gosto de quero mais.
Nas calçadas quando se vai a ilusão
Mendiga centavos, escreve a sua história,
Quando muito mal um pão é a sua glória,
Vive escrava da alienação.
Sua mente distorce a realidade,
Vê nos olhos de quem passa a desilusão,
Mal conhece ela a piedade
Quando alguém lhe estende a mão.
Aí a jovem moça esguia
Conhece nas mãos da solidariedade
Algo mais, uma forte amizade,
Um sentimento de renovação.
Sobe a ladeira da Glória Esmeralda,
Entra em seu casebre de madeira,
Na mesa simplória a fruteira,
Guarda o vazio do seu coração.