Ele beirou a cama trazendo a bandeja com... Enio Ferreira

Ele beirou a cama trazendo a bandeja com o café. As janelas enredavam uma manhã de um azul gritante de belo, vindo de um céu límpido e de um tranquilo mar à beira de praia, as vezes perturbado por um vento leve que só bastava para fazer algumas ondas preguiçosas e balançar os rudes barcos dos pescadores, e ainda oferecer um conforto natural ali no ambiente do quarto. Nem precisou acordá-la, pois ela já fora despertada pelo aroma do café que saturava todo o apartamento.

Ele sempre se encantava e se enternecia pelo despertar da amada, que já no abrir dos olhos despejava um enxame de charme naquele espreguiçar de gata feliz, e, até aí, ele suportava bem, mas, quando ela abriu as pernas para colocar o seu primeiro pé no chão, ele caiu de joelhos e se dobrou sobre aquilo que lhe causava o desejo irresistível e, ela se preparou para receber o beijo, que não foi um, mas foram dois, que foram três, que foram seis, e foram mais, e muito mais.

A bandeja de café, esquecida sobre o criado-mudo. Lá em baixo, na rua, o fuzuê do trânsito, onze horas, hora de pico, os operários em hora de almoço, o cessar das marteladas da construção de um edifício perto dali. O mágico claro do dia a lembrar passos e pernas em meio ao barulho de motores e buzinas. Vozes ofegantes, corpos em brasas, balanço e prazer.