Chuva sertaneja... Vieram silenciosas,... Múcio Bruck
Chuva sertaneja...
Vieram silenciosas, adentrando a madrugada
Leves em chão estradeiro, que passa gente e gado
Tamborilando gotas por sobre palhoças e carroças
Ouvia silente, da janela, o canto da chuva
Saudava em sorriso a água bem vinda que convidava
Lentamente, o dia amanhecia nos passos de sertanejos
Águas caindo, mergulhando o solo rachado, sem vida
Era a garantia de colheitas... canas, sabores
Eram chuvas de março, breves, leves, ávidas
Crianças em colos, beatas em procissões de fé
Passos sobre aquele mundão um dia rachado
Sem flores, cumpriam promessas de esperança
Era já passado a poeira, as lágrimas, a dor e sede
Nasciam nascentes, sonhos de colheitas
Findava, em presente do céu, a eterna espera
Descri do que via, fiando, quiçá, ser sonho
O tempo das águas, das correntezas era chegado
De cumprir o destino: dar vida às sementes
As águas eram bem chegadas, findando tardanças
Alegrando o seco abandono, encerrando aguardos
O rio virou mar, mar de passar peixes e barcaças