TURBULÊNCIA Não há nada mais... Ana Clara Cabral
TURBULÊNCIA
Não há nada mais angustiante
Uma verdadeira história de terror,
A frase avisando que a decolagem chegou
Máscaras de oxigênio cairão à sua frente
Avisa a comissária com voz rouca e animada
Gestos, sinais e mensagens, tudo repetitivo
Parece até narrar algo muito divertido
Centenas de idéias passam por minha cabeça
Penso na família e nos amigos que na terra deixei
Atar cintos de segurança, para que isso adianta?
Se cairmos, iremos nós, o cinto e até a esperança.
Ao abrir os olhos, me deparo com outra agonia
Essa aeronave possui assentos flutuantes, diz o aviso
Em meio à angústia, oro e chamo por Deus
E fico a me perguntar se hoje é o meu dia
Quando consigo esquecer a força da gravidade
Uma voz masculina e irritante faz questão de dizer
Que passaremos por uma área de turbulência
São coisas que eu não precisava saber
Quando tudo parece perdido a mesma voz anuncia
Aquela frase estranha de que o pouso foi autorizado
Ora, e se não fosse? Fico logo a me perguntar
E alguém tem o direito de me impedir de chegar?
Pés e mãos suados e o coração disparado
Portas traseiras e dianteiras se abrem
Um gesto convidativo que parece expressar
Não será dessa vez que você irá nos deixar.