Mãe, além do substantivo Mãe não... Bruno Estevam

Mãe, além do substantivo


Mãe não pega o jeito, já nasce pronta. Mãe não fica sabendo, ou não chega depois, de alguma forma e não se sabe como, ela já sabe e já está lá. Mãe não mente, diz que na volta a gente compra e não se fala mais nisso. Mãe não avisa, prevê. Mãe arruma a gente, mãe arruma um jeito. É brigando com a mãe que se aprende a perdoar. Afinal, com mãe a gente não rompe, só fica de mal. Mãe é a melhor companhia para ir ao pronto socorro. Se a gente não sabe o que tem, ela provavelmente deve saber. O pediatra só passa a receita, ela constata: “Eu falei, isso aí é virose, vamos passar na farmácia”.

Mãe pergunta só pra cumprir protocolo, por educação, na verdade ela já sabe de tudo. Tanto é que quando pergunta, pergunta afirmando: “você bebeu, né?” “você passou essa camiseta?” “seu quarto tá limpo?”

Mãe não ameaça, fala que vai sumir de vez qualquer dia desses. Mãe tem um dom metafísico que transcende a natureza das coisas: não importa se você perdeu algo, ela vai achar e vai esfregar na sua cara. A ciência ainda não explicou esse tipo de fenômeno, mas os cientistas estão trabalhando nisso.

Mãe não cabe em prosa, em verso, nem em música. Não tem começo, meio e fim. Mãe a gente não lembra, a gente leva. Lavoisier disse uma vez que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Com mãe não é diferente. Mãe é um papel que vai um pouco além do pra sempre, um pouco além, porque parece que até o pra sempre, sempre acaba. A mãe não.