O documentário The Square* (A Praça)... Josielly Rarunny
O documentário The Square* (A Praça) relata um período de três anos no Egito, no qual o país se livrou de um ditador, obrigou os militares a realizarem eleições, elegeu um religioso para presidente e derrubou-o após uma guinada autoritária. Os chamados revolucionários de 25 de janeiro e seu comportamento são glorificados.
O documentário retrata ativista politicos que representam o ideal de ativista que o Ocidente gostaria que não só o Egito, como o Oriente Médio inteiro, fossem. Eles são ativistas seculares, modernos e engajados em uma luta incessante pela democracia. A pressa dos ativistas pela democracia, e a ânsia pela revolução, é tão grande que o próprio documentário foi refeito por Noujaim. A versão indicada ao Oscar é bastante diferente da premiada em Sundance em janeiro de 2013. Fiseram cortes na nova edição para retirar as cenas mais fortes, o que chamamos de jornalismo sensacionalista.
E o novo corte inclui as manifestações populares contra o governo de Mohamed Morsi, irmão muçulmano eleito depois de duas ondas de protesto: a primeira contra Mubarak e a segunda contra a junta militar que substituiu o ditador.
O Documentário retrata a intransigência dos revolucionários. Ao se apegarem ao ideal, perderam de vista o fato de que a democracia não é uma magia, é construção, feita a passos lentos e dolorosos. Ao menosprezarem a política, deixaram de ver a necessidade de entrar no sistema para poder modificá-lo. Ao confiarem nas Forças Armadas, mesmo após as torturas e abusos sofridos, não perceberam que foram transformados em massa de manobra no golpe de julho contra Morsi.
Ao contrário das estrelas de The Square, a maior parte dos egípcios vai comprar a comida de amanhã com o dinheiro ganho hoje. Para esses, a estabilidade está à frente do desejo por democracia, especialmente depois de três anos de crise. Não é à toa que novamente os revolucionários da Tahrir estejam indo para a cadeia, desta vez ao lado dos irmãos muçulmanos, enquanto uma nova ditadura se estabelece, aclamada por milhões de egípcios.
Acredito que se tivessem utilizado a interação por meio das redes sociais, eles teria alcançando o objetivo com rapidez, já que a Internet permite uma viralidade maior com estratégias usadas no marketing digital.