A GARGANTA A garganta... que manta! Mata... Antonio Montes

A GARGANTA

A garganta... que manta!
Mata ata e arrebata,
uma santa que canta
em segredo, silencia o medo
ou aponta o seu agudo
desembainhando
os seus enredos.

Garganta santa...
As vezes grita,
as vezes embala
as vezes cala sob sala
em aglomeração entre tantas
sai da vala
do casulo
cai no mundo
se embala.

Um dia entalou a fala
desencantou,
foi ao doutor
que adotou fervor,
e ao seu horror...
Desentalou.

E a garganta cheia de tema...
contem trema poesia
contem poema,
e diadema
de todos os dia.

Tem dia que se sente pequena
na reunião se abrevia
na feira...
Prega pragueja
e o povo aglomera
com sua frieira
e em sua frenesia.

Faz baderna na bodega
no palco...
Recita, narra
se solta, se amarra
... A garganta
tem lá as suas marras
seus agudos...
Grave, leve
seus encantos breve.

Todavia o mundo é movido
... Quando a garganta pia...
Ela amarra, desamarra
ela arrasta na marra
ameaça, faz fumaça
a garganta traça
como traça
e tece o amor
e a desgraça.

As vezes esta carinhosa
mansa, amansa
cai dos enredos
revela seus segredos
a garganta começa
logo cedo
cedo...
Muito cedo.

Antonio Montes