Madrugada madre da ressurreição... me
Madrugada madre da ressurreição
madrugada fonte de inspiração
madrugada, o dia que já vai raiar
os olhos vermelhos e o céu escuro
a lua já esconde no clarão
e os meus pesares mais profundos
afundam as raízes no colchão.
Madrugada, o dia que já vai raiar
me permita um pouco mais a divagar
porque logo logo o raiar do dia
as palavras correm, o relógio grita
ai que prazo curto ai que agonia ai que frenesi
uma esteira infinda olha o fim do mundo
será o fim de mim?
infinitos meios, infinitos fins
infiltrados no massa do encéfalo.
Doce madrugada, prefiro a tristeza
a eterna tristeza sentida e calada
a pobreza do verso, sincero,
terminado na beira da calçada.
Olha o meio fio olha a moto o carro
olha o pé no ralo olha o sol ralado
vai ralar também!
O ócio é a loucura
o vício só procura
quem deixa brecha quem
deixa o tempo frouxo.
Deixa tudo justo
não sobre um segundo
gasta, consome, devora.
Sabes que na liberdade mora
as enfermidades todas?
Protejo o corpo nas cobertas
e me encolho caramujo
a face do fim de um segundo
é a divisa da seresta.
É cedo. O carro de mão carreira
A torradeira belisca. O alarme buzina.
A estrada chega. O sol se descortida.
O aviso avia o grão de aveia
o ovo frita firgideira
a cidade frita clareia
os cachorros os miados
Os povos apovalhados
debatem e debatem-se.
A meia. A empresa fervilha.
O tempo consome não some
causa caos desmonte.
O café da manhã servido:
gente, torrado, ovo, povo, frito, mexido.