Voz Ativa Depois a gente inventa Uma... Valdenir De Lima Oliveira
Voz Ativa
Depois a gente inventa
Uma outra maneira de falar
De uma forma que não arrebenta
Nos obrigando a calar,
Já que tudo que a gente diz
Dizem que é proibido
É coisa que contradiz
A um ser assim tão sabido
Depois a gente inventa
Uma maneira de falar
Porque todo rei
Tem sangue na venta
E quase nada ele quer escutar,
E por isso eu já não sei
Se eu falo,
Canto ou berro
Pra que um dia congele
Na garganta um calo
De tanto vomitar o que eu quero
Depois a gente inventa
Uma direção
Uma luz que levanta
E acenda teu coração,
Que já anda meio escuro e perdido
Vivendo em contradição
Depois a gente inventa
Uma palavra
Que seja tão só
Mas sempre dona da gente,
Que toma conta de nos dois
Quando levantar aquele pó
E nada mais se ver pela frente
Coisa dura tormenta
Palpite cego valente
Palavra arisca confusa
Diagonal do tempo serpente,
Que vibra cai
E não sai
Nos vãos desse cais
Já recai,
Quando perdido se acha que vai
E a boca intrusa
Num segundo retrai
Depois a gente inventa
Uma outra maneira de calar
Dessa vez um tanto diferente
Daquela que se tem de falar,
Que surdo que é surdo lamenta
Um dia não poder escutar
Pelos ares vai sempre voando
Algo que o povo dizia
Quando os homens
Na terra voltando
Ouvia somente o que queria
Parte que não preenche
Voz que não alimenta
É esse o mais puro vazio
De quem consente por fora
E se cala por dentro,
É nessas horas
Que eu já não sei
Por que será que ainda aguenta
E não abre esse jogo agora,
Todo dia só aumenta
E um segundo já demora
É coisa que o coração inventa
E logo já quer gritar,
Por tudo que tá engasgado
E já não dar pra esperar
Voz maluca quer correr
Quer cair na tentação
De quem fala por viver
Por gritar um coração
Que palavra enche o mundo
Enche mais que o ribeirão
E se não grita quer morrer
É como viver na escuridão.