O Pedido. Perco-me, perco-me, Acho-me,... Marco Aurélio Valente
O Pedido.
Perco-me, perco-me,
Acho-me, volto a me perder
Sigo adiante com as costelas quebradas,
Mas de cabeça erguida e peito aprumado,
Disposto a dar a outra face à tapa...
Nego-me, sonego-me, escondo os arranhões do tempo,
O calabouço que me enfiaram cujas grades serrei com os dentes.
A masmorra onde o capataz era o amor que sentia.
Sai vivo, marcado, porém vivo.
Então eu te peço, por clemência,
Não me devolva à bastilha,
Não quebre minhas pernas,
Não remende minhas costelas,
Porque o que tenho para dar não são migalhas;
Não sou homem de migalhas.
Sou inteiriço e não em pedaços,
Sou verossímil, real e não um personagem,
Sou amor em prosa e verso,
Tecido de linho para cobrir seu corpo.