Algum dia me falaram em lucidez insana,... tadeumemoria
algum dia me falaram em lucidez insana,
em insensatez sensata,
nunca entendi, jamais entenderia;
eu colhia pétalas de estrelas
que caiam no terreno baldio na frente da minha casa,
a boca roxa de jamelões ou a língua azeda de tamarindo
que as safras me proporcionavam além da cerca de arame farpado;
eu ainda não tinha sonhos,
eu tinha a leveza das pipas e o mistério dos piões
e percebia o calor e as matizes da manhã,
extasiado com esses milagres sem perceber os seus efeitos,
mas para isso eu tinha os amendoins torrados ou confeitados,
tangerinas nas portas das quitandas
como um adorno mágico e perfumoso aos dias da minha adolescência.
Não se fazia projeto para a felicidade;
a felicidade estava nos sorrisos e nos olhares,
nas canções românticas que cantavam o amor
nas radiadoras das periferias, que alimentavam os sonhos
e a necessidade de sonhar; então eu sorria fácil
perdido nas divagações da minha mente,
leve e encantado com as cores dos balões
e o rebuliço aconchegante das feiras livres do meu bairro;
sua gente de olhares meigos e risos fáceis
nas manhãs luminosas que clareavam
os dias da minha adolescência e acalantavam os sonhos da minha vida