Silenciou. Silenciou e todos à sua... Camila Dias
Silenciou. Silenciou e todos à sua volta sabiam que era um sinal de alerta. Ligam-se os faróis de SOS, Estado de sítio, fujam para as colinas. Ela silenciou.
Entrou lentamente fazendo com que sua presença fosse percebida por todo o salão da cafeteria. Olhei pela janela e logo conheci o motivo que a trazia aqui, estava chovendo. Todo mundo sabe que chuva, café e cigarro são como pólvora para corações que ardem.
Deu meia volta em um dos saltos e se dirigiu à área externa, era uma varanda com plantas aéreas que faziam a ideia de um ambiente acolhedor. Dali fiquei a observar. Marlboro branco denunciava sua preocupação em não deixar odor, embora já não fizesse muito efeito, qualquer um poderia sentir a quilômetros de distância o cheiro da dor que queimava naquele peito.
Unhas e batom vermelhos, pediu um expresso duplo, ela nunca foi mulher de meios termos. Tragava como quem mais parecia beijar, talvez pela lembrança de alguém que refletia na fumaça. Era dia dos namorados e por isso ela decidiu silenciar. Passou a semana ouvindo e respondendo suas amigas sobre presentes e jantares daquele dia, sempre foi o estilo Amelie Poulain: Resolvia a vida amorosa de todo o universo, menos a sua. Optou assim por achar que sofreria menos, até sentir na pele o peso intenso daquele 12 de junho.
A chuva deu uma trégua, e como a mulher forte que era- ou demonstrava ser- engoliu o choro que estava prestes a sair, pagou a conta e cruzou novamente o salão para ir embora. Pausou me fitando com a porta semi aberta, desisti da minha tentativa de disfarçar lendo o livro e encarei, ela suspirou aliviada ao fechar a porta.
Duas almas boêmias sabem se reconhecer.