Que as dores são inevitáveis, todo... Beatriz Zanzini
Que as dores são inevitáveis, todo mundo sabe. Tem fases em que o riso não sai, a fé fica pequenina - ou até mesmo nula - e a nossa força se esgota.
Cada um reage de um jeito nestas crises... Alguns soltam as lágrimas para aliviar, outros em uma tentativa de se afogar.
Alguns buscam outras saídas, sejam elas fugas ou um jeito mais leve de lidar com a vida.
Eu costumo mergulhar fundo na escuridão. Tranco a porta, fecho a janela e deito a cabeça no travesseiro de uma forma que o ouvido fique tampado para eu não escutar o barulho lá de fora (e muito menos o daqui de dentro).
É aí que eu percebo que não tem jeito: não consigo silenciar o que machuca o meu peito.
Então acolho a minha dor, não por querer a sua companhia, mas por saber que sem entendê-la e aceitá-la, ela não será capaz de ir embora de mim por completo.
Deixo os gritos saírem, a carne sangrar e o choro escapar. Parece masoquismo, mas é que eu preciso deixar o que me prende vir à tona para conseguir me libertar.
Mais uma vez, para a minha sorte, consegui quebrar as correntes (que já estavam enferrujando). Saí delas com certa dificuldade e muitas feridas - algumas com cicatrizes para que eu jamais me esqueça do que eu passei. E, para ser sincera, eu prefiro não esquecer para que assim eu me lembre também da minha capacidade de me reerguer, mesmo quando isso parece ser impossível.
Hoje eu consigo voar, o riso sai fácil e meus olhos não pesam mais por estarem encharcados. Talvez eles estejam até mais coloridos pela forma bonita de enxergar a vida, mesmo depois de tudo. Sei que não dá para ser assim sempre, só que agora eu também sei que quando outra tristeza chegar, por mais que ela insista em doer, eu só vou me render durante o tempo necessário para (depois) me regenerar.
Afinal, após toda aquela tempestade escura, sei que o sol também sempre vai voltar para me refazer e (de novo) me iluminar.