Aquela criança arrumadinha,... Helen Villiger
Aquela criança arrumadinha, desprotegida, que se sentia corajosa, forte, livre de todo mal e cheia de pureza não fica pra trás, fica pra dentro. Quanto mais a gente envelhece, mais lembranças e mais cheio fica o nosso interior de lembranças do passado. As rugas significam isso, é o tempo de se libertar, colocar o peso pra fora, aquele peso que carrega o rosto, o peso do amor, das lembranças, do sorriso e o mais cruel, o peso da saudade – viver é também carregar muitas despedidas dolorosas. Toda beleza está em saber ver o tempo, admirá-lo enquanto se está, inevitavelmente preso nele enquanto os ponteiros arranham mais o peito em cada avanço – todos os dias dão a mesma volta e permanecem jovens, os relógios não sabem onde querem chegar, mas nós sabemos bem pra onde estamos sendo levados: pro fim, pra beleza de se tornar eterno