Eu quero é mais. Pois é, estou eu aqui... Charles Valente

Eu quero é mais.
Pois é, estou eu aqui entre upas e ais sobrevivi. Passei pelo final da ditadura militar, campanhas das diretas, fui cara pintada, descobri que fui manipulado, fui comunista, idealista, Darwinista, fui crente e fui ateu. Quando pensava que ensinava estava eu aprendendo de novo. Não terminei de escrever meu livro, fiz dois filhos, me encantei com Nietzsche, Kant, Confúcio e Rousseau, me apaixonei por filosofia, compus canções, falei de amores e misérias, de sonhos e ideais. Fui poeta, cantador, ator e repentista, hippie, naturalista, fui fumante e fui ex-fumante, fiz tatuagem, bebi sucos, chás, cervejas e vinhos... Ufa! Vivi um bocado. Mas sabe? Pensando bem, a gente nunca acha que viveu o suficiente, tem sempre um sonho que nos impulsiona para mais um “tiquinho” de vida, e eu ainda tenho tantos... Sonho tanto com amor sincero entre as pessoas, com uma lágrima depois do poema, com aquela sensação de paz depois da canção, sonho com o pão nosso de cada dia de preferencia acompanhado de: Café, leite, manteiga e livros da escola. Sonho com meus filhos encontrando seus filhos e batendo um papo sadio, sonho com pessoas bem resolvidas de cabeça erguida com coragem de dizer que não concorda, mas com educação para ouvir o oposto de suas ideias. Sonho com um mundo melhor sabe? Não é porque sou bonzinho ou bom menino no papel politicamente correto até porque politicamente correto eu nunca fui. Sonho com isso por puro egoísmo, verdade! Egoísmo puro. Criar um filho em um mundo (Filho da Puta) deste é para deixar qualquer cético rezando ladainha e crente excomungando Jesus. Uma sociedade onde as leis existem, mas não são cumpridas, o voto é direto, mas a eleição é manipulada, os políticos com cara de peroba e coração de OGN, impostos acabando com a nação, os órgãos de defesa do meio ambiente preocupados apenas em defender os interesses estrangeiros e sacrificando a produção. Ainda falta: Saúde, dignidade, escola. Ainda sobra: Preconceitos, crack, cocaína, heroína, metafetamina, e mais um monte de “ina” que eu nem sei. No meu tempo, se resumia em duas palavras: Maconheiro ou subversivo assim eram definidos todos aqueles que tiveram a petulância de não concordar. Mas quer saber? Foda-se! Eu assisti: Pink Floyd na derrubada do muro de Berlin, eu curti: Todos os rocks e MPB’s dos anos: 70, 80 e 90, eu fiz serenata na janela e ganhei beijo de madrugada, eu bebi vinho safado ouvindo o barulho da cachoeira, fiz discurso, recebi palmas e vaias. Sei que ainda resta uma estrada a ser percorrida e que agora eu trago em minha bagagem dois corações famintos por saber e por participar desta vida louca e bela que temos. Então cheguei até aqui cheio de esperança e gritando: VALEU CASA DOS 40! Uhuuuu que venha mais, 50, 60, 70, 80...E QUANTOS MAIS PUDEREM VIR. Obrigado aos meus amigos, a minha família, aos meus filhos e a meu amor pela experiência ímpar de viver. Sei que um dia eu volto ao começo cumprindo a missão cíclica e bíblica: Do pó ao pó. Enquanto meu dia não chega, me divirto na labuta e na peleja sirvo versos em uma bandeja feita de banda de cabaça. Um coité serve de taça o meu verso é minha igreja.