Você é metafísica pura e eu me perco... Amanda Seguezzi
Você é metafísica pura e eu me perco entre as tuas galáxias sem pudor algum. E desfaço as malas, os planos, e até os danos para navegar entre os teus planetas. Me enrolo no teu corpo feito sutis anéis de Saturno e você atiça esse lado escuro, como o da Lua, mostrando que meu coração não é só poeira cósmica. Minha estrutura consagra, contempla e se conecta em ti, sem oxigênio, resultando em supernova. Então, quando o universo vira um cubículo chato de sólidas paredes existenciais, eu chego a implorar pelos campos de radiação de várias frequências que compõem o teu sorriso. Aí eu me pergunto por onde o universo esconde essas constelações brilhantes que habitam nos teus olhos. E me perco viajando através delas em todas as dimensões de nós. Então, o magnetismo das pontas dos teus dedos passeia entre os vãos das minhas costelas como se tentasse descobrir outro mundo. E se perde em meio a tanta oscilação de estrelas cadentes dissonantes que atravessam o céu do meu caos. Mas o tempo é avesso à minha vontade e vai acelerando as horas, os espaços e os infinitos finitos, separando cada átomo meu de cada átomo seu. E a enorme distância calculada em anos-luz do vácuo que separa as nossas almas não é tão ruim quanto te ver e não poder te tocar. Aí nossas partículas elementares são fracionadas em elétrons, prótons, dogmas e casualidades morais; fazendo o teu abraço ser apenas uma tempestade de meteoritos incandescendo um planeta distante. E você vai embora. E compete com o calor do Sol explodindo por decorrência das mudanças repentinas no teu campo magnético. E pousa no meu caminho iluminado os meus dias como se a partida nunca fosse realizada. E consegue desestabilizar todos os corpos celestes e cravar mais uma estrela de solidão na orbita do meu peito. Aí a sua matéria se mistura na minha, mesmo que nossos pensamentos transmutem em enormes espaços vazios. Através dessa atmosfera fria, o teu ar me aquece. O que eu posso fazer se gosto de como tudo no meu universo se rende ao movimento do teu universo e dos teus erros. Gosto da sensação de mundo girando ao contrário que a tua alegria me causa. Gosto da colisão dos nossos campos gravitacionais, enquanto a gente se olha e fica rindo sem noção do abismo que abriga o amor que nunca sentimos.