Há no ar certo queixume sem razões... Alexandre Santos

Há no ar certo queixume sem razões muito claras.
Converso com pessoas que estão entre os 30 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda ou um certo vazio – parece-me que chegou o fim da festa e não se bebeu o bastante, não se comeu o bolo do casamento ou não se beijou o tanto que queria.
Marina Lima disse algo lá na minha época.
“Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento”.
As festas regadas de boas conversas, grandes acontecimento são pouquíssimas, raras exceções na sua maioria - são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.
Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente.
Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados.
Pra consumo externo, todos são belos, sexy, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.