Mas que bela, que bela amargura eu... Clycia Ferreira
Mas que bela, que bela amargura eu plantei. Ainda que não a deixe escapar, há dias que fica difícil não deixa-la transparecer. Uma ira com a descrença alheia na realização de sonhos, uma fúria com as divergências e contradições de princípios, uma revolta com quem faz você gostar da chuva e logo após muda pra verão, lhe deixando molhar nas tempestades que ele mesmo lhe ajudou a criar. Mas que bela, que bela angustia eu cultivei. Segurar a raiva pra evitar atritos nunca foi meu forte, mas que forte? Eu nem sei qual seria ele. E de mágoas em mágoas os sorrisos começam a doer, a vagueza no olhar já é tão presente, indecifrável como meus pensamentos, que me acorrentam, mas no que eu penso tanto? Eu já nem sei dizer. Eu só sinto, eu sinto um peso nas pálpebras, eu sinto que algo me consome, eu sinto que não sei mais o que devo ou não sentir. Sinto muito.