Anna Helena é menina rara... dessas de... Múcio Bruck
Anna Helena é menina rara... dessas de muitas letras e poucas falas. Com a coragem dos bandeirantes, desbrava, desde páginas que vão de versos que contam aventuras e encantos milenares até as quase indecifráveis de seus complicados estudos e, de tudo, sempre volta mais viva, falando de Pasárgada, dos Montecchios e Capuletos e, entre citações da boa obra de Adélia Prado ou de Fernando Pessoa, conjuga suas amigas fórmulas e associações de glicerídios e triglicerídios... óxidos... hidróxidos, ácidos fortes... ácidos fracos... até de uns tais H ionizáveis...
Certa manhã, inconformada com as injustiças do mundo, Anna esbravejava que, se preso fosse, o carbono teria direito a quatro ligações, enquanto o hidrogênio nem família tinha e, pra piorar, a cadeia do hexano era aberta...
E não parou por ai... questionava porque uma mulher com o nome de Florbela Espanca escrevera Conto de Fadas? Foi a gota d'água!
Em poucos minutos, Anna Helena foi levada de seu quarto ao consultório médico. Depois de muita conversa, doutor Orozimbo saiu do consultório e disse à mãe de Anna: “Lamento muito senhora, mas não há muito o que se fazer por ela... essa moça é um caso meio complicado de química e poesia”.