Da minha própria definição da... Olavo de Carvalho
Da minha própria definição da filosofia como 'unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa', decorre que a primeira obrigação do filósofo é abrir-se a todas as correntes de pensamento, a todos os valores que estejam em luta no seu tempo, deixar-se impregnar por eles sem nenhum julgamento prévio e, aos poucos, ir buscando alcançar uma atitude intelectual de conjunto que faça justiça aos vários pontos de vista, baseando nisso a construção da sua personalidade e o seu senso de orientação na vida e no conhecimento. Isso implica que ele só deve começar a expor publicamente os seus pontos de vista quando alcançar um certo nível de maturidade intelectual (foi por isso mesmo que só publiquei meu primeiro livro aos 48 anos de idade, uma das estréias mais tardias da literatura nacional). E é óbvio que qualquer investigação dos capítulos da sua vida anteriores a esse momento revelarão aspectos da sua formação que depois se integraram num quadro maior com novo significado, e que isoladamente NÃO SÃO provas de 'adesão' a esta ou àquela idéia. Só à luz da sua filosofia atual se pode compreender esses capítulos, mas o observador ignorante ou malicioso pode fazer aí uma confusão dos diabos, tomando etapas de um aprendizado como se fossem dogmas de uma crença. No Brasil, onde tantos, em compensação da insignificância das suas vidas, gostariam de posar de detentores de 'inside informations' escandalosas e demolidores de reputações, a tentação de fazer isso é quase irresistível.