Doença ligada a todo sóciopata Para... Benedito Wilson Sá
Doença ligada a todo sóciopata
Para descrever melhor o caráter duvidoso de alguém que não transmite confiança, devemos compreender: O que é a mentira?
Omissão dos fatos? Contar apenas meias-verdades? O silêncio consciente, com o único objetivo de causar transtornos, mal entendidos, maledicências? Segundo o Dicionário 'Aurélio', entre outros sinônimos, a mentira é classificada como afirmação contrária à verdade; engano propositado, impostura, fraude, falsidade.
Mas, quem mente, afinal? Aquele considerado por todos como um mentiroso contumaz, conhecido e apontado por muitos e desacreditado por todos? O que prefere se calar diante da gravidade de determinadas situações, para não se envolver, porque 'não tenho nada com isso?' O político profissional, quando, em campanha, promete o que sabe, de antemão, que não terá condições de cumprir? A mulher, que omite certos fatos, considerados por ela corriqueiros, e prefere se calar diante de seu marido? Ou o homem que esconde 'quase' tudo de sua mulher?
Todos nós, em determinados momentos de nossas vidas, mentimos. Às vezes, mentimos todos os dias. Não importa qual seja a intenção, os motivos alegados por nossas próprias consciências. Somos todos mentirosos. Por falta de opção. Por compaixão. Para nos escondermos de nós mesmos. Não interessa. Talvez fosse ótimo praticarmos, no nosso dia-a-dia, o hábito de olharmos para trás e verificarmos o rastro deixado por nossas mentiras.
Quanto mal causamos a nós mesmos por não termos dito a verdade. Muitos de nós, por medo ou fraqueza. Então, por esses momentos de fragilidade interior, causamos dor aos outros, provocamos a ira em alguém a quem muito amamos e, conseqüentemente, por vezes, somos desacreditados. E a quebra de confiança é algo grave e, talvez, irreversível!
A mentira também pode se transformar em calúnia, e provocar um verdadeiro estardalhaço na vida das pessoas, que são os alvos dos mentirosos! Nesses casos, 'ela' tem um destino certo, com um único, definido e rasteiro objetivo: o prejuízo moral, emocional ou material de alguém. Portanto, o relevo da mentira não está no tamanho, mas no estrago que ela produz. Toda mentira provoca dano. Este, sim, pode ser avaliado.
A língua, além de ser o órgão da cavidade bucal, principal da deglutição, do gosto e, no homem, da articulação das palavras, também é uma arma poderosa, que pode construir um mito ou destruir a imagem de alguém! As palavras, quando proferidas sem nexo e sem responsabilidade, com covardia, insensibilidade e sem que se analise as conseqüências que podem trazer quando ditas com maledicência, ironia e maldade, têm um poder imenso no cotidiano do ser humano! Portanto, há que se ter o máximo de cuidado quando nos dispomos a dizer algo sobre alguém, quando relatamos uma história, ou até mesmo quando repassamos algo que ouvimos.
Na maioria das vezes, as pessoas mentem sem perceber que o estão fazendo. Mas há os que mentem, intencionalmente, com total consciência do mal que esse ato insano poderá causar a outrem. Porém, mentem tanto, e toda uma vida, que acabam por acreditar nas próprias mentiras.
E há os verdadeiros 'artesãos' da mentira! Estes são os mais perigosos, pois, além de mentirem, o fazem com tanta maestria que quem os ouve acredita! Não em definitivo, é claro, pois ninguém poderá enganar a todos por todo o tempo! Então, quando isso acontecer, o mentiroso obstinado, prepotente e que não está acostumado a ser desacreditado, não tendo mais público para suas mentiras, abandonado e sem ninguém que o ouça, mentirá para si mesmo. E o que é pior e mais trágico: acabará por acreditar nelas! E se auto-destruirá com suas próprias mentiras!
A humanidade não escapa das induções a erros. A história jamais esquecerá a empulhação de Bush para justificar a invasão do Iraque, sob o pretexto de destruir as armas químicas, ainda invisíveis, do arsenal de Saddam Hussein.
A melhor que ouvi foi aquela do marido que vivia de enganar a mulher. Nos dias de carnaval, que ele afirmava abominar, apanhou uma peça de roupa e disse que ia pro retiro espiritual da igreja, do qual retornaria terça-feira. No primeiro boteco começou a beber. A batucada evoluía bem, até virar quebra-quebra. Da batida policial ninguém escapou, e só seriam soltos na Quarta-Feira de Cinzas ao meio-dia.
Na residência, sem saber notícias do marido, a mulher liga a TV, exatamente na hora em que o plantão transmitia da porta da delegacia. Quando ela, boquiaberta, enxerga o esposo apenas de cueca segurando um dos lados da faixa confeccionada por ordem do delegado, onde se lia: 'Bloco do que é que eu vou dizer em casa.'
Benedito Wilson Sá é membro da
Academia Paraense de Letras.