A vida não permite ensaios, nem... Gustavo Aschar

A vida não permite ensaios, nem regravação de cenas. A vida não permite a você ter um roteiro, nem decorar suas falas. A vida não te conta o que vai acontecer daqui há dois anos ou dois minutos. A vida acontece agora e ela não espera por você ou por sua vontade de viver. A vida é o circo iluminado, a risada do palhaço, as palmas da platéia. A morte, bom, a morte é quando as palmas acalmam, o riso para e as luzes apagam. você marcou de cortar finalmente seu cabelo, mas não vai aparecer no salão. A vida pode ser um clichê, mas a morte, mesmo quando esperada, é sempre surpresa. Vão ter que mexer nas suas coisas, dobrar as suas roupas, por em dia suas contas. Vão guardar as suas lembranças e passar seus pertences para frente. Aquele dinheiro que você guardou todos esses anos, para aquela sua viagem inesquecível, nunca vai ser usado, pelo menos não por você. Você não teve a chance de esperar se formar para ser feliz, para ter dinheiro, para comprar aquela coisa que sempre quis. Você não teve tempo nem se despedir. Um acidente bobo em um trânsito no feriado e pronto, acabou. A vida não espera por ninguém para acontecer e a morte também não. A morte é aquele tio chato que ri de uma piada que não teve graça nenhuma. A vida dos outros irá continuar, mesmo que aos poucos, sem você. Apenas aqueles que eram extremamente próximos serão realmente afetados. Suas lembranças serão guardadas naquelas fotos e naqueles momentos em que você foi realmente feliz. Ninguém irá lembrar de você pelo dez que tirou naquela prova que passou três noites inteiras estudando e sim, por aquele sete verdadeiramente comemorado. Sua turma da faculdade vai entrar na sala e sentir a sua ausência, mas logo algum aluno esquecido sentará no seu lugar e os outros estarão ocupados demais estudando para próxima prova para notar. A morte é aquele livro que você não conseguiu terminar e vida, bom, a vida é como o vento que continua a soprar, mesmo que o moinho não exista mais