SINTO MUITO, eu apenas sinto, e, quando... Petros Medeiros
SINTO MUITO,
eu apenas sinto,
e,
quando sinto,
o rio deságua,
a tinta atinge o chão
e é em meio a vermelhidão
que percebo que já não há mais palavras
que possam substituir essa ação.
A minha boca sangra,
pois ela deseja ser capaz de falar,
deseja ser capaz de se libertar,
deseja que ainda que por um momento
as palavras pudessem curar.
Sonho com um momento
em que a canção do rio
seja mais forte que sua correnteza,
e que ao lado do vento
seja capaz de em suas notas
transmitir minha tristeza,
que sirva de alimento.
E se eu pudesse falar,
se coubesse em palavras
e eu pudesse expressar,
que me perco desejando ser encontrado,
que meu medo
seja me deixar ser levado
por aquele que se reconhece terminado,
e que por implorar por um pouco de cor,
seja em branco que eu continue a ser banhado.