Pior que a gente deixa tantos costumes e... Clycia Ferreira
Pior que a gente deixa tantos costumes e certezas de lado, pior que a gente muda, a gente muda sem deixar de ser a gente, mas muda.
A gente aprende as manias, os vícios na linguagem, quando nota já está falando semelhante. A gente sintoniza a alma, o humor, tudo se conecta, a gente chega ao ponto de prever uma atitude, já sabemos o que fazer.
Pior que a gente se importa, pior que a gente volta atrás, a gente pede perdão mesmo sem ter causado a guerra, mas levanta a bandeira branca, a gente apazigua pra não correr riscos.
A gente adentra tão profundamente na vida do outro, que as vidas se unificam, uma completa a outra, duas vidas distintas são coincididas, acontecimentos em comum mantém essa união, essa sincronia, já não podemos evitar.
Pior que a gente gosta, pior que a gente se desmonta, se reinventa, faz carinho, diz que sente saudade. Pior que a gente agrada, sem nada em troca a gente faz o outro feliz, a gente se anestesia com o som da risada, sente que o mundo poderia acabar naquele abraço, pior que em partes ele acaba. Em cada abraço se acaba um pouco mais do seu velho mundo, definha todo um passado, dando vez a um sentimento devastador, e o pior é que a gente deixa.
E o pior de todos esses piores, é que a gente só consegue entender o sentido da nossa vida, quando a gente ganha a vida de alguém, ou pior, quando a gente entrega nossa vida a alguém.
Amar é entregar sua vida a alguém, sem perdê-la.