Se te falar que andei sonhando com... Jessé Santos

Se te falar que andei sonhando com você, você acreditaria em mim? Assim meio que do nada mesmo. Juro-te que não pensei em você nas horas que antecederam meu sono, nem andei vasculhando suas fotos em qualquer rede social e nem tão pouco desejei te ter por perto.
Juro. Apenas sonhei. Queria que se apresentasse algum louco para tentar explicar essas coisas. Apenas sonhei com você e ah! Foi meio que inevitável não acordar pela manhã cedinho pensando em nós dois. Imaginando se, sei lá, em alguma dessas noites inexplicáveis você já sonhou comigo também, se, por um descuido, seu pensamento voou até mim, antes que você se desse conta da chuva que estava se armando no céu e abrisse de uma vez o guarda-chuva que nos separa. Ia chover saudade. Ia chover vontade. No fundo é tudo a mesma coisa. Por aqui choveu ontem, e a TV esqueceu de anunciar pra que eu me preparasse. Andei perguntando às janelas do ônibus onde você estaria. Não tive resposta. Sei lá, se perdeu, armou um guarda-chuva e um colete à prova de paixões? Por onde é que você andou enquanto eu sonhava com você? Em que ruas você se escondia enquanto aqui só chovia desejo de ter você perto a mim? Talvez você tenha medo de algo que eu nem sei o que é. Você tenha medo do que eu posso vir a querer, e tudo o que eu quero é ser e te fazer feliz. Tá difícil perceber? Um dia não tão distante quis parar um carro e pedir pro motorista me levar pra sua vida. Falar assim mesmo, feito louco, “ei, senhor, me leva pra vida dela”. Mas aí ele ia fazer uma pergunta difícil: onde? Qual endereço, mapa ou ponto de referência? Não, nenhum, senhor, deixa pra lá. Isto soa triste, não acha? Todavia até mesmo a tristeza tem seu lado bonito e oferece poesia que só, só que nunca, anota aí: nunca tanto quanto seria receber o seu abraço. Por falar nisso, me fala: pra inspirar poema como você, a gente tem que respirar o quê? Eu queria conhecer do que te move e do que te comove. Do que te provoca o sorriso, as lágrimas, o olhar, do que você fazia antes de aparecer na minha vida e transformar o rumo desse meu olhar mal acostumado. Perdão desvirtuei da conversa, não era isso o que eu pretendia dizer. Desculpa, não sei o que acontece comigo, só que às vezes me dá essa urgência de você. Às vezes me vem essa urgência de aproveitar a chuva e correr ao teu encontro. Ou te chamar pra vim ao meu encontro. Tanto faz. Tipo coisa de um roteiro de filme sabe? Jogar tudo pra cima e te procurar, como se não houvesse tanta coisa além do querer-estar-junto. Às vezes me vem essa urgência de você. Coisa que dá lá dentro do coração. Coisa que dá quando você não passa pra me dá um oi no dia e me arranca de uma vez desse lugar inundado de saudade. Tá chovendo bastante aqui dentro e sinto que o coração não aguenta esse aguaceiro, grito desesperado: cadê você? Ei, me diz como te alcançar, que eu encaro toda essa chuva, corro o mundo se preciso for e vou te ver. Porque, sei lá, se ainda estou aqui, deve ser porque alguma coisa é verdadeira nisso tudo. Talvez o meu encanto? Ou, quem sabe, aquele sorriso que sei que você dá disfarçadamente quando te escrevo algo? Olha, isso tudo é pra te dizer: Se cuida, viu? Quando chover, esteja com teu guarda-chuva. Se não estiver, passa aqui em casa e usa isso como desculpa e aproveita pra me ver.