Pela fresta da janela a vizinha assistia... Djalma CMF
Pela fresta da janela a vizinha assistia a tudo, não perdia nada. O seu grande faro para os acontecimentos parecia muito apurado, ela pressentia tudo ao seu redor. Enquanto isso, a garotada se movimentava para anotar todos os escândalos no decorrer daquele ano para não faltar nada no boneco que seria malhado. Todos os anos eram assim, enquanto a vizinha tomava conta da vida dos outros pela fresta da janela, ela era observada também..., pois o seu nome jamais faltaria no boneco de sábado de aleluia. Enquanto contabilizavam os dados, a molecada queria buscar também informações sobre o que essa tal Dona Carmem sabia, até porque, ela estava muito mais atenta do que eles que tinham horas para dormir. Daí, eles foram só anotando o que chegava até eles, como no caso do Jessé com a Piruna, que se relacionaram as escondidas, o tal do Manoel Chita que casou com a boca de cantor e certo sujeito que se encontrava as escondidas com a vizinha, mulher de um sujeito com apelido de passarinho, ele estava invadindo a sua gaiola quase todas as noites, entre muitas outras anotações difamatórias. Nesta madrugada de sexta para sábado a vizinhança não dormia, todos temiam que seus erros fossem parar no tal Judas. Eram cartazes reveladores e comprometedores, ao ponto de mexer com a moral até de quem não fez nada de vergonhoso durante o ano. Aqueles que não viviam das frestas de suas janelas, tomavam conhecimento de todas as ocorrências através dos bonecos de Judas ano após ano, uma tradição que se encontra em desuso, devido a tanta confusão que sempre causou por toda circunvizinhança, alem é claro, por causa da violência atual também. Uma pena essa brincadeira saudável se tornar tão ofensiva, ao ponto de ter levado as pessoas ao aborrecimento em várias ocasiões, privando as crianças das tradições de outras épocas.