Não foi o choro mais doído, nem o... Olga Durães
Não foi o choro mais doído, nem o desesperado. Foi o choro baixinho, na saída do trabalho. Eu, com minha bolsa pesada e meu par de brincos bonito, chorei com o caminhão de lixo. Nenhuma ideia, nenhum projeto bom, nenhum roteiro bonito pra me confortar. O caminhão recolhia o lixo e deixava seu rastro fedorento. Olhei no retrovisor meu batom desbotando, meu queixo sujo de rímel, o esmalte descascado. Eu olhei o gari de cabelo loiro e sua cara de comigo vai tudo bem. Olhei o outro, despretensioso que atravessava a rua com cara de sonso. Pensei nas esposinhas que os esperavam, limpas. Pensei em limpar toda a sujeira do lixo desmoronando, mas virei a cabeça pra pensar em outra coisa.