A Compreensão dos Destroços Uma pessoa... Gérlley Gonçall
A Compreensão dos Destroços
Uma pessoa me disse que quando você deixa a escuridão entrar dentro de você, ela não sai mais; dentro desta, um farol por maior e mais forte que seja, torna-se uma faísca...
Sombrio, abandonado por mim mesmo, destruído por solidão. Em uma vida de escolhas, boas ou ruins, descobri a pior de todas: ficar sozinho, sofrer sozinho... em mim mesmo... Tentei, juro que tentei reagir, mas sentir já não era mais possível. O vazio que me venceu, me dominou, não me permitiu sequer piedade de mim mesmo, procurou e encontrou minha fraqueza; na verdade eu entreguei a ele; e todo aquele vazio então, inusitadamente fora preenchido; não por literaturas de auto ajuda, mas por uma real amargura, ódio até! Debilitado (não sei ainda se este é o termo), por uma doença física, deixei que desencadeasse uma ainda maior; a física facilmente tratada pela medicina, já a outra, eu mesmo obrigatoriamente tratei de curar. Eu conheci uma crueldade desconhecida em mim, não por ingenuidade, mas pela hipocrisia de sempre me sentir protegido estando cercado de pessoas erroneamente julgadas amigas, e pratiquei em mim esta crueldade! Dilacerei todas as minhas feridas, mesmo as cicatrizadas, e com toda minha raiva exprimi cada uma; foi doloroso, quase insuportável a ponto de pensar em me entregar, mas amargurado demais comigo mesmo e motivado pela culpa, uma a uma destas feridas fui costurando, lacrando todas e ao fim percebi que havia me curado; me senti diferente, e estava; fechei todas as feridas e junto, me fechei também, imunizado de tudo que me possa me ameaçar!
Esta não é uma história de final feliz, pois não existem, e se duvida, diga-me se a morte é feliz?! É certo de que ela é o final. Não estou movido pelo ódio, rancor ou coisa do tipo, continuarei sim fazendo o bem; mas a partir de agora, a mim mesmo, sem temor algum, nada mais me causa temor!
Assim estou feliz, assim me faço feliz, e finalmente me tornei forte! Definitivamente não estou fazendo drama, por que aprendi a odiar o drama, simplesmente estou declarando meu desprendimento de tudo aquilo que nada me acrescenta.
Ser feliz tornou-se meu lema, caminhar sem olhar pra traz, de peito erguido e olhar fixo sempre à frente me torna feliz, portanto não esteja na minha frente, esteja ao meu lado, pois eu não irei hesitar em seguir olhando e caminhando pra frente, sem desviar meus passos, sem ao menos ver minha sombra!!!
Temos o poder de mudar nossas crenças e assim mudar nossa forma de ver a vida. O resultado pode ser uma nova vida e novas condições físicas. Coração burro, mas agora imune ao que não me convém!
A experiência de toda a minha vida é uma prova de que tudo muda; você não pode se agarrar a nada em um mundo em mutação; você quer tornar a sua amizade permanente, mas esse desejo vai contra a lei da mudança, e essa lei não tem exceções.
Caí sobre meus próprios destroços e sambei compassadamente, entregue aos que me rodeavam, exposto a todos contidos de um ilusório poder de julgamento, e obviamente fui julgado. Praguejei quem eu mais amava e subi numa árvore jurando que iria voar, caí lá de cima, fantasiando ser uma simples folha desta árvore, caindo levemente sem me dar conta de que já estaria só, e com o tempo, perdendo vida... deixando ser levado pelo vento que sequer me apontou um destino; não precisava, eu caí em si e entendi que pra onde eu fosse, qual fosse o lugar, me restava apenas aceitar e relutar a sobreviver!
Pouco a pouco fui me desfazendo, apodrecendo... não bastasse, vieram e me cobriram de terra. Seria o fim, era o fim, mas fiz desta mesma terra meu alimento, me reinventei numa semente e por sobre ela renasci; diferente, mais forte e menos dado ao acaso, um mesmo acaso que doei por inteiro; eu só queria voar porque já não aguentava ter os pés assentes no chão. Tinha me cansado do meu velho eu, por isto e apenas por isto permito a pena alheia.
Chorei com a esperança que tudo não passasse de uma má fase e que minha essência ainda continuasse aqui dentro. Sobrevivi do resto que sobrou e fui como disse antes, cedido ao vento, aliado um tempo certo e implacável me devolvendo sentenciando o que de mim não prestava, e finalmente percebi que saber se reciclar é tão importante quanto saber viver, saber viver com os homens é uma arte de tanta dificuldade que muita gente morre sem a ter compreendido, estou certo de que eu precisei morrer para compreender, dado que me orgulho em saber que isto é feito pra poucos, fortemente estou de pé e me levantarei quantas vezes for preciso!
Gérlley Gonçall