Eu estava ali, de certa forma,... Arcise Câmara
Eu estava ali, de certa forma, representando um papel
Senti minha mente se abrindo a novas ideias e possibilidades, estava gostando da ideia de mudar de ideia, tornei-me inseparável de alguns livros, de algumas lições aprendidas, estava ressentida, ok, mas era algo tão interno, tão escondido que ninguém precisava saber.
Coisa boa é ser você. Pois é! Estava tão difícil ser eu ultimamente, vivia encafifada, cheia de grilos, perguntava-me se era amor ou carência por beijinhos, perguntava se realmente ele satisfazia meus rigorosos padrões. Diacho! Porque amar é tão complicado.
Lamento a indelicadeza quando fui rude com ele, eu não gostaria de retribuir favores, nem um jantarzinho a dois para conversar sobre um passado tão remoto para mim, eu estava me sentindo maravilhosa, om mais de trinta amigos, estava amando com a naturalidade jamais alcançada, eu realmente tinha botado o passado em seu lugar, eu não sabia o que tinha dado em mim, meu amor por mim mesma era superior a tantos sofrimentos amorosos do passado.
Sei que precisava viver isso, amadurecer, sentir que estava perdendo pessoas importantes, me sentir louca por não lutar pelo amor errado, pela insensatez, jamais admiti, mas tinha e tenho medo de ficar sozinha, os pares parecem mais felizes.
Não havia uma ameaça evidente em meu coração, ultimamente ele estava batendo mais forte por homens errados, num destino óbvio de sofrimento...
À pressão da opinião pública para que eu construísse um lar de verdade era sem tamanho, as circunstâncias me incentivavam a reagir ou reclamar, eu não tinha essa eterna preocupação com o futuro, mas tinha medo de deixar escapar.
Eu tenho o péssimo costume de comer comidas diferentes, amo experimentar, amo a realidade da culinária local, amo o jeito novo de cada prato delicioso, eu evidenciava alguém que não evidenciava a si mesmo, eu saía de casa com um certo pressentimento e não dava em outra coisa a não ser tristeza.
Agora sou bastante seletiva na hora de escolher um par, não fiquei amargurada como dizem, mas certos perfis não combinam comigo nem para um beijo de selinho, não sei gostar de quem não gosta de si, não tenho um projeto sem base alguma, estou apenas mais preocupada com minha própria felicidade do que atender expectativas esquisitas.
Por vezes fiz vistas grossas a relacionamentos politicamente incorretos, por outras tantas interpretei os sinais de decepção com serenidade, eu sei que muita gente me fala que vou me arrepender se não for mãe, eu sei que muita gente me avisa que eu preciso de alguém para cuidar de mim, mas eu sei também que não posso colocar um bebê inocente no mundo sem ter certeza plena.
Insinuações tortas são apenas exageros de quem ver a vida de outro jeito, ameaça de infelicidade são apenas sua ótica sonolenta de “talvez isso dê certo para você”.
Ainda consigo ver a bondade e felicidade em seus olhos de quem não amamentou, ainda consigo entender que ter compromissos não faz a vida completa, ainda aprendi que algumas coisas são prêmios outras são zebras caídas de paraquedas.
Enquanto isso eu resolvo o que fazer com a minha vida, enquanto isso eu finjo que esse discurso único não me atinge, enquanto isso me sinto impotente com a idade chegando, enquanto isso eu preciso me sentir valorizada em outros aspectos.
Talvez a única explicação lógica permitida seria eu entender que o tempo não chegou, que não adianta eu me arrumar para algo que talvez nem aconteça, que nenhuma cartada de mestre traz resultados iguais para todos e que há outros meios de ser feliz.