DEUTERONÔMIO (Sinopse) PROJETO DE UMA... Bíblia Pastoral

DEUTERONÔMIO

(Sinopse)

PROJETO DE UMA NOVA SOCIEDADE

A palavra grega deuteronômio significa segunda Lei. Trata-se de uma reapresentação e adaptação da Lei em vista da vida de Israel na Terra Prometida. Este livro nasceu muito tempo depois da situação histórica que nele encontramos (discurso de Moisés antes da entrada na Terra), e passou por um longo período de formação. Para o autor, porém, o povo de Deus está sempre na posição de quem deve se converter a Deus e viver em aliança com ele, para ter a vida (Terra = Vida).

A idéia central de todo o livro é que Israel viverá feliz e próspero na Terra se for fiel à aliança com Deus; se for infiel, terá a desgraça e acabará perdendo a Terra. O livro, porém, não se contenta com idéias gerais. Após relembrar o Decálogo (5,1-22), ele mostra que o comportamento fundamental do homem para com Deus é o amor com todo o ser (6,4-9). A seguir apresenta uma longa catequese, explicando o que significa viver esse amor em todas as circunstâncias da vida pessoal, social, política e religiosa. Essa catequese é apresentada sobretudo através das leis do Deuteronômio (capítulos 12-26), onde se procura ensinar ao homem como viver em sua relação com Deus, com as autoridades, com o outro homem, e até mesmo com os seres da natureza.

Mais do que nos determos nessa ou naquela parte do livro, encafifados talvez com uma ou outra lei, o importante é perceber o que o conjunto procura transmitir: um projeto de sociedade nova, baseado na fraternidade entre os homens e na partilha de tudo o que Deus concedeu a todos. Notar sobretudo que Deus é chamado Pai (1,31), e os membros do povo são chamados entre si irmãos. A vocação do povo de Deus é a fraternidade e a partilha.

O livro do Deuteronômio é, sobretudo, um modelo de ação pastoral e social. Sua parte central (Dt 12-26) nasceu em meados do séc. VIII a.C., numa época de grande desenvolvimento econômico, que acabou por acelerar a injustiça e a desigualdade social: uma minoria privilegiada detinha a riqueza e o poder, enquanto a maioria do povo ficava reduzida à miséria. Diante disso os levitas itinerantes (não ligados diretamente a um santuário) desenvolveram uma catequese que mostrava o caminho para a superação dos conflitos. Essa catequese diante de situações concretas se cristalizou nas leis do Deuteronômio. Tais leis não devem ser entendidas no nosso sentido moderno de lei, mas muito mais como orientação, ensino, educação para produzir relações justas e fraternas dentro da sociedade. A intenção básica dos levitas era provocar coerência entre a Aliança que se celebra e a vida que se vive. O esforço deles é um modelo para que também nós saibamos tirar as conseqüências econômicas, políticas e sociais da fé que professamos, a fim de que o fermento evangélico gere de fato uma sociedade nova.