EU ERA FELIZ E NÃO SABIA Uma casinha... Viviane Andrade

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA
Uma casinha branca no alto da serra com janelas de varanda e porta de entrada sempre aberta como um sinal de boas vindas. O cenário talvez não seja o mais belo que os meus olhos já viram, mas a felicidade era vista em cada canto que se olhava. Dali podia-se contemplar toda a chapada e ao entardecer as luzinhas da cidade ao longe se confundiam com o brilho dos vagalumes que por ali voavam. No terreiro a molecada a jogar bola. Na porta de entrada, sentados na escada os mais velhos se reuniam para uma prosa. Ainda ouço as gargalhadas dos causos que se contavam em torno das experiências do dia. Ali o tempo parava e o caminhar das horas ninguém sentia. Risos e prosa eram silenciados pelo canto das cigarras anunciando o entardecer e no quintal as galinhas começavam a se empoleirar nos viveiros para o merecido descanso dando o toque de recolher. Eu aproveitava cada segundo antes do anoitecer. Os balanços de corda improvisados no pé de Flamboyant balançavam num vai e vem como que embalando sonhos no meu coração. As cordas eram as mesmas que amarravam as vacas para a ordenha ao raiar de um novo dia. Ali era um pedacinho do céu, não tinha luxo ou vaidade, mas era o reduto do amor e da felicidade. Na memória a saudade da infância que tive um dia e a certeza de que eu era feliz e não sabia.

Viviane Andrade