360 graus Por entre as frestas da gaiola... Hermes Fernandes

360 graus

Por entre as frestas da gaiola
Enxergo num raio de trezentos e sessenta graus
Meu canto é como festa de vitrola
Trilha sonora de amores contados em saraus

Lá fora aventuras, perigos... Frajola!
Mas cá dentro estou seguro destes elementos maus
Além de alimento garantido num cardápio de esmola
Ao menos sou poupado da fúria desse caos

De que me servem as asas
se privado sou de explorar o mundo à minha volta?
Estas grades me são travas
Não percebe que o meu canto é um pranto de revolta?

Deixaram a porta aberta...
Talvez por um descuido ou até para me testar
Agradeço pela oferta
É a chance com a qual sempre estive a sonhar

Ao abrir as minhas asas
Ensaiando meu mergulho céu afora
Sofro apenas quedas rasas
Fraturando meu orgulho de outrora

Dou-me conta de que nada adianta
dizer sim a esta oportunidade
Se o espanto que secou minha garganta
foi notar que as asas me foram cortadas
Nada mais nesta vida me acalanta
De que serve esta tal de liberdade?

Mas as asas um dia voltam a crescer
foi o que um anjo sem asas me garantiu
Fez a chama da esperança reacender
Minha alma de alegria até sorriu