CARTA FAMILIAR Nasci. Vim ao mundo para... Tiago Augusto de Figueiredo

CARTA FAMILIAR

Nasci.

Vim ao mundo para celebrar a vida
e me surpreender.
Abri meus olhos, vi meus pais,
porém ainda não tenho tempo para entender.
Queria falar tudo o que via,
mas ainda não pude me expressar.
Queria aproveitar os meus brinquedos,
mas ainda não os pude tocar.

Ouvi dizer várias palavras,
embora seja "mamãe" que onde tudo começou.
Eu gaguejei pelas vogais,
e foi assim que meu falar melhorou.
Cai ao chão ao dar um passo,
pensando eu que já poderia correr.
Ainda bem que ao atravessar a rua,
recebi o apoio das mãos que me ensinaram a saber.

Cresci.

A vida aqui é um pouco complicada,
às vezes não sei em que pensar.
Mas meus amigos até me ajudam,
pois muitas vezes me perco em meu caminhar.
Multiplicações e divisões entram em minha cabeça,
e meus pais estão lá para me incentivar.
Ficam do lado, de vez em quando rindo,
de minhas fúteis tentativas de memorizar.

Viajo nas dúvidas que tenho na era dos porquês,
até tento decifrar muitos segredos.
Sou feliz porque tenho gente que cuida de mim,
preciso de apoio para controlar meus medos.
Comecei a aprender as coisas da vida,
fatos que marcaram o início da minha experiência.
A cada minuto um aprendizado distinto,
tempos bons nas escolas de minha existência.

Parti.

Eu achava que as coisas eram difíceis,
mas sozinho, as coisas complicaram de certa maneira.
A responsabilidade em mim aumentou,
e hoje cuido de uma família inteira.
Vejo em meus filhos a criança que eu fui,
tão inocentes neste mundo mudado.
Como foi rápida esta mudança de geração,
às vezes temo o caminho que eles têm andado.

Meus pais hoje estão velhos,
e agora sei porque precisaram tanto cuidar de mim.
É difícil dividir a vida para trabalho, filhos e família,
nunca pensei que passaria por tantas preocupações assim.
Fui embora, mas apenas mudei minha residência,
preciso cuidar daqueles que me ensinaram a ser quem sou.
E hoje meus filhos são reflexos do meu passado,
sabem o que eu sabia, cuidam do que eu cuidava, vão aonde vou.

Ensinei.

Agora meus cabelos brancos já mostram quem fui,
fico feliz em saber que minha vida foi aproveitada por toda idade.
Meus pais moram com Deus, mas meus netos me dão uma grande alegria,
fiz minha história, marca de minha personalidade.
Todos os meus filhos souberam me respeitar,
todos pegaram de mim certa mania.
Que pena que já não posso reviver tudo o que quero.
devo-me acostumar com tal nostalgia.

Agora tenho que me acostumar com este sofá,
tenho que me habituar com esse cansaço infernal.
Mesmo assim sou feliz por velho estar e ter um espírito jovem,
as coisas passaram rápido, mas minha vida foi genial.
Vejo que meus netos são meus filhos do ontem,
e ganham a mesma educação que eu consegui lhes passar.
Poderei partir feliz para junto de meu Pai protetor.
Ensinei meus filhos a ser humildes, a respeitar, a amar...

PS. Adeus."