Um romance com sua própria qualidade de... Arcise Câmara
Um romance com sua própria qualidade de vida
Fiquei uns seis dias sem treinar e isso me machucou por dentro, comecei a duvidar de tudo que havia conquistado. Treze quilos a menos, super disposição, então resolvi coordenar tudo a minha volta.
Espero que meu corpo nunca me acuse que eu passei dos limites, acho um tanto ridículo ter prazer em sentir dor nos joelhos, tenho uma relação destrutiva com a corrinhada.
Prometo com todas as letras que vou maneirar. Deixar de ser egoísta, focar nos resultados, a natureza não perdoa quem a desrespeitou por anos, eu tinha transtorno do sono, cefaleia, ansiedade, sensação de inchaço e estava sujeita a mazelas de todas as doenças possíveis.
Fico falando comigo mesma sobre a ansiedade que era a minha marca registrada, meu caso amoroso com o saleiro e meu vício diário em açúcar, sem açúcar eu parecia mil vezes irritada.
Ninguém consegue explicar aos outros a solidão, principalmente se está acompanhada, eu estava me afundando em comida quando na verdade tinha mil oportunidades de viver.
Um dia a vida vai unir você ao esporte e você vai perceber que perdeu muito tempo antes de tomar a melhor decisão da sua vida. Não se sinta ofendido, a solução certa para uma vida feliz é serotonina na veia.
A vida cada vez mais violenta, a gente não controla o amor, a comida, os filhos, a gente não consegue controlar mais nada e a vida vai correndo contra o que desejamos, fingindo fugir do que nos equilibra.
Não conseguia enxergar com lucidez, eu era uma usina de pensamentos antecipatórios, orgulhosa e vaidosa, minhas gorduras me deixavam medrosa ou arrogante, cheia de decisão própria, tomando a iniciativa, sem os pequenos problemas que sequestram a tranquilidade. Tem que gostar do conjunto.
Somos imperfeitos e vivemos num mundo imperfeito, não sou intolerante com quem tem preguiça de se exercitar, não hesito em dizer que mudei minha vida para melhor, as dores de cabeça ficaram raras e eu não conseguia enxergar isso.
Minha reação natural é acordar às quatro horas e dez minutos e me preparar para mentir para o sono que insiste em me desmotivar, enganar o estômago com água para que eu não faça exercícios com a barriga pesada. As circunstâncias são diferentes, antes eu tomava café da manhã em cinco minutos ou menos. Hoje tenho um amor maior por mim e pelo meu corpo.
Quero apenas derreter as peles do braço e da barriga, ter horários regulares para as atividades físicas, falar mentalmente do que me faz bem, assim como palavra de escoteiro. Prometo não repetir. Prometo comer doces apenas em ocasiões especiais. Prometo evitar frituras e carboidratos brancos ao máximo. Prometo incluir frutas e verduras nas alimentações.
Não existe um botão de desfazer, nem tecla de apagar, a vida é assim, sem voltas no tempo, minha atitude é apenas para manter a dignidade de um corpo e uma mente saudável.
Nunca soube o que é carinho pelo corpo, mesmo na época de magrela, entupia meu corpo com porcarias e o que me deixava magra era meu metabolismo acelerado. Eu hoje tenho uma preguiça enorme de mastigar trinta vezes cada garfada.
Dava-me uma preguiça de ir malhar, de controlar as porções, mesmo que meu cérebro suplicasse para eu desacelerar. A minha mente sempre me dizia para descobrir minhas características positivas.
Não recebi amor antes de nenhum esporte, não me encontrava em nenhuma atividade que me desse prazer, eu me preocupava menos com a saúde e mais com o corpo que eu desejava ter.
O que me move é a necessidade de me sentir valorizada, viva, amada, o que me move é a lucidez de uma vida sem remédios, sem desconfortos, sem fórmulas mágicas que não funcionam.