"No início era tudo uma coisa só,... Giselle Confidenti
"No início era tudo uma coisa só, uma bola, um amontoado de matéria. Que reagia instintivamente com o meio. Sujeita à tudo, levada pelo tempo, pelo vento, um corpo sem memória, perdida no tempo e no espaço. Quando dei por mim, de que havia algo, foi por que ouvi uma voz. Escutei mas não entendi, deveria deixar de ser um amontoado de matéria, para compreender o que ouvia. Então o fiz...
Atentei os meus sentidos. Senti braços, pernas, pele, pele, pele, pele...
Me olhei com o dedos dos outros. Bom, devo admitir. Era necessário ver agora, de novas perspectivas. Já achei que podia tudo. Mas ao levantar pés do chão, vi que eles estavam grudados à superfície. Pela força e pela raiva, o forcei, gritei, briguei e eles continuavam ali, fixos, como estátuas.
Por um instante desisti, não pensei em nada, me rendi.
E foi aí, que me desprendi. Voei, perto do chão, admito, mas os meus olhos se voltaram para o que era maior. Para o que me era desconhecido.
E nesta certeza de conhecer, de descobrir, de ser melhor, é nesta certeza que me lanço no buraco negro da vida."