A grama já estava molhada e chovia... Maria Clara Guimarães Senna

A grama já estava molhada e chovia intensamente naquela tarde. Não optei por mais nada que não fosse aquele momento. Deitado ali na grama, sentia um alivio notando que a cada gota que caia sobre mim era levado embora todo aquele peso sobrecarregado. Como muitos dizem: quem sente a chuva, purifica sua alma.
Fazia dias que o calor estava em alta, agora estou tendo minha tarde de paz. O céu estava bem pálido, nublado e os ventos vinham forte em minha direção. Rapidamente, vem a lembrança de que algo está faltando naquele momento: a música, logo chego na solução, sem hesitar pensar profundamente. E não havia muito no que se pensar também, era lógico que ela faltava, pois para mim as coisas funcionam de maneira propensa uma as outras: a chuva é uma paz, a paz vem da alma, e a música abastece a alma.
Depois de um tempo curtindo o momento, volto para dentro de casa, e me encontro com os olhos fixos na casa da frente, mas não estava enganado: ela estava lá, ela estava na janela, olhando a chuva (O que será que ela está pensando? pergunto a mim mesmo sabendo que nunca saberia aquela resposta..) deve ser algo bom, porque estava suspirando e sorrindo. Com um sorriso tão doce, era possível esquecer todos os problemas, todo o mundo, aquele sorriso me transmitia paz como nenhum outro transmitirá.
Abro minha gaveta e retiro um dos meus papeis de carta pardo favorito. Começo a escrever algo:

**Agora que a vi sorrir meu coração tornou-se um refúgio de lembranças boas. Seus olhares, cheios de incerteza me encaminhavam a um mundo que a tinha nas palmas da mão.

Mas ela era maravilha. Um descuido perdido na poesia.

Ai de mim, poder transbordar naquele paraíso que muitos insistem em chamar de sorriso. Pobre e rugiu, sem experiencias com corações. Poder ganhar o dela e preencher suas lacunas. Antes de a desdenhar, ela já me transbordava.

Fixo a mim, não irei perde-lá enquanto meu coração estiver quente ao teu reflexo. Sua imagem é meu ninho, que sempre que posso me encaminho,
e me perco,
e me encontro,
sozinho.**

Guardo a carta, pensando no dia que terei oportunidade de entregar a ela e saber como é ter o poder de ser dono de um paraíso.
A chuva vai parando aos poucos.. E as cortinas se fecham levando embora de mim sua sutil face. Naquele momento penso eu que ela é como a chuva, caía sobre mim com toda sua força e me deixava louco por poder senti-la e na sequência ia embora aos poucos e calmamente trazendo todo o caos de volta. Moça, se tu for a chuva farei de meu coração um quintal, para que sempre que possível ser inundado de cada uma de suas gotas.