Com destino certo, esperando o ônibus... Gabriela Scheid
Com destino certo, esperando o ônibus na parada
Me flagro sem rumo.
Não sei o que quero
Não sei se fiz o certo
Não sei se almejo
Seguir no ritmo desenfreado
Da sociedade insana.
Tão perdida quanto a mulher
Que caminha atrapalhada no asfalto gelado,
Beirando a morte.
- E quem não beira?
Caminha como pode. Bêbada.
Vestindo seu pijama e chinelos
Em pleno inverno.
Eu mal respiro, devido a gripe
A mulher ri, sem aparentes motivos.
A persigo com o olhar
Até onde a neblina permite.
Ela sobe o morro
Eu subo no ônibus.
...
Peço um café
Temendo o frio e a chuva.
Um senhor sentado na mesa ao lado
Escreve em um bloco velho.
Me olha e sorri.
Escrevo atrás de um currículo
Que deveria ter entregado.
Mas lembro apenas de estar perdida,
Como de costume.
Caminhos existem vários.
Ainda que não almejo ter tudo,
Sonho muito alto.
O senhor da mesa ao lado soa sabedoria
Arrisco uma conversa tímida,
Peço um conselho sobre a vida.
Volto desapontada e sorrindo.
Lhe perguntei se havia alcançado
O tão aclamado sucesso.
Ele fixou o olhar no chapéu na cadeira
E me respondeu, como pôde:
- Sucesso é relativo, jovem garota.
Sinto minhas mãos, escrevo no meu bloco
Estou vivo! E é claro, paguei pelo meu café.
Considero-me bem sucedido, por hoje.
Amanhã, se acordar, farei isso outra vez
Embora sei que estou beirando a morte
- lembro da mulher no asfalto
Não que isso importe. O meu sucesso eu alcancei.