Deito na cama com os braços e pernas... Dhieferson Lopes
Deito na cama com os braços e pernas esticados em direções opostas. Formo com o corpo o desenho da antepenúltima letra do alfabeto. Sinto um formigamento na ponta de cada um dos meus dedos, como se meu interior estivesse saindo através das extremidades das minhas unhas. Encontro-me no vácuo, sem o meu espírito, vazio como o nada, assustadoramente oco. Vejo minha alma a me observar, flutuando próxima ao teto do meu quarto. Ela me fala das suas frustrações, do quão pequeno é o espaço para ela viver, das imensas limitações impostas pelo sistema vil e comprometido criado pelos indivíduos terrestres. Conta-me sobre a liberdade, desconhecida por praticamente toda a massa. Ela ri sarcasticamente e faz cara de decepção ao falar sobre as pessoas que se julgam libertas, quando estão a viver reféns de padrões estéticos; obrigadas a seguirem um modelo definido como certo; estagnadas às normas do capitalismo; presas aos conceitos e aos dogmas incodizentes aos anseios mais puros de seus instintos. Chora por viver junto à suas semelhantes que, talvez, morrerão sem descobrir essa vertente crucial da vida e ao mostrar suas asas estendendo-me a sua mão para levar-me a liberdade. O despertador anuncia o nascer de mais um dia, é hora de acordar.