Povo de Fé A gente nunca deveria... Cláudia Dornelles
Povo de Fé
A gente nunca deveria discutir religião. Não. Religião a gente deveria apenas sentir. Ou bate ou não bate.
Temos muita sorte. Muita! Quer ver? Te conto.
Iniciamos o ano, logo no primeiro dia, 1º de janeiro, e o que temos? Dia de todos os santos. Quer exemplo mais democrático? Está todo mundo homenageado e não se fala mais no assunto!
Dezenove dias depois, comemoramos São Sebastião, que, não sendo bobo nem nada, é logo o padroeiro do Rio de Janeiro. Levou flechada, mas levou a melhor, vamos combinar.
Chegamos a dois de fevereiro. Sem controvérsias. Vamos comemorar Iemanjá. Afinal, um litoral imenso desses não poderia ficar sem uma musa inspiradora. Até Caymmi se rendeu aos seus encantos. Seria eu a desacreditar? Jamais. Me rendo, e com louvor.
Na luta diária pedimos clemência à exploração de cada dia e que ninguém negue: é preciso ser guerreiro para enfrentar o trânsito, o caos, a violência, o desamor, as fraudes morais, a falta de grana, então, chega mais Jorge, 23 de abril é aguardado para berrarmos nosso potencial guerreiro e irmos à luta com alguém que nos apadrinhe. Esperamos por você ansiosamente!
Para um povo amoroso não poderia faltar, é claro, uma esperança, então, Antônio entra em cena dia 13 de junho e faz a festa. Ufa! Resta alguma esperança aos encalhados de plantão. O coitado ainda se sujeita a ficar afogado, de cabeça pra baixo. Uma baixaria o que se faz com o coitadinho!
Dias depois, Pedro, que de bobo não tem nada, não foi à toa que ficou com as chaves do céu, antes de fechar o mês faz a sua festa. Comemoramos o dia das crianças, dos adultos, dos avós, da árvore, de Nossa Senhora.
O que buscamos mesmo é "alguma alma mesmo que penada, que empreste suas penas" quando não sentimos mais amor, nem dor, nem nada.
Só nos recusamos a perder a fé!