Se um dia na sua vida você tiver que... Padre Fábio de Melo
Se um dia na sua vida você tiver que saber quem na vida mais te amou, quais foram as pessoas que mais te amaram de verdade, é só descobrir as pessoas que mais te perdoaram.
Uma matemática fácil de ser feita, porque, na vida, nós só temos o direito de dizer que amamos depois de muitos outras vezes termos precisado perdoar alguém. Que o amor é justamente o momento em que você descobre o outro fazendo tudo errado, tudo ao contrário do que prometeu e, mesmo assim, você ainda tem reservas, aí dentro, pra trazê-lo de volta, pra olhá-lo nos olhos no momento em que ele não merece, pra desconcertá-lo com seu perdão no momento em que ele espera sua acusação; e nisso Jesus era mestre.
Da mesma forma, se você quiser saber quem você mais amou, é só começar a contar nos dedos às pessoas que você mais precisou perdoar, porque o amor não existe fora do perdão. Se essas pessoas que dizem que te ama só porque você faz as coisas certas. Cuidado! Porque no dia em que você não conseguir fazer tudo certinho e ele te dispensar, fica triste não! É porque nunca te amou.
Há relacionamentos que acabam no primeiro momento de fraqueza. Nunca foi amor! Amor é essa capacidade heróica que nós temos, que foi dada por Deus, e que a gente alimenta à medida que a gente vive, de ser capaz de ajudar o outro a ser melhor.
Às vezes, nós achamos que para amar o outro tem que ser perfeito. Isso não é amor, isso é admiração! Não faça dos seus afetos apenas uma admiração pelos outros! Eu até costumo dizer, costumo radicalizar. A gente só sabe que ama à medida que o outro é inútil pra nós. È inútil, não serve pra nada, e, no entanto, eu não sei viver sem ele na minha vida. Quando é inútil pode envelhecer do lado, porque a relação já não passa mais pela utilidade.
Enquanto você espera alguma coisa do outro, corre-se o risco de ainda de não ser amor. Amar é você descobrir que o outro não serve pra nada e, no entanto, você não sabe ser você se ele não estiver do lado; já não está mais na estância da utilidade, mas é do ser, eu já não consigo dizer meu nome sem dizer o seu junto. Por isso a gente é capaz de perdoar, se não é capaz de perdoar é porque não é amor.
Eu não aprendi isso nos livros. Aprendi isso na minha casa. Nasci numa família de muita dificuldade, muito sofrimento, foi muito difícil ser gente lá dentro, mas valeu à pena. E por isso eu aprendi que Deus é assim, que Deus não se cansa de nós, que Deus continua com a porta aberta, porque, quantas vezes nós precisarmos da sua misericórdia, Ele estará sempre pronto pra nos perdoar. Porque Deus não sabe fazer outra coisa senão nos amar.
Deus não sabe fazer outra coisa senão nos olhar nos olhos e nos dar uma nova oportunidade, porque Ele nos ama de verdade, Ele nos ama de fato, e quando a gente acredita no amor do outro, nós não desconfiamos dele. Eu posso ser o pior dos homens e você também pode ser o pior dos homens, a pior das mulheres, mas, pelo amor de Deus, nunca desacredite que Deus ama você.
Não é o que nós fazemos de certo, ou o que fazemos de errado que vai fazer com que Deus nos Ame mais ou nos Ame menos. Não! Esse é o amor humano e ele é mesquinho assim.
Eu me recordo que uma vez, nós fomos chamados lá em casa porque o meu pai estava muito embriagado no centro da cidade, tão embriagado que não conseguia voltar pra casa. E naquele momento quando chegamos lá, havia chovido, e o meu pai estava caído na sarjeta, todo sujo de lama.
Naquele momento eu senti uma vergonha danada. Era um menino pequeno. Tinha medo e vergonha de que os meus amigos pudessem ver o meu pai caído daquele jeito.
Hoje, depois de tanto tempo já vivido, e meu pai já ter falecido. Eu descubro que aquele sentimento que eu tinha, não era um sentimento de vergonha. Era um sentimento de indignação. Porque indignação brota do amor, a vergonha não. Você fica indignado quando você ama, porque você vê a pessoa no lugar errado, é o mesmo que Deus fica quando nos vê na sarjeta também, nos momentos em que vê que a nossa dignidade está maculada, está escondida. Ele não sente vergonha de nós mesmo quando estamos no pecado, Ele se sente indignado só, de ver um filho que Ele criou, que Ele pôs no mundo, e de perceber que ele não está conseguindo ser feliz.
Hoje, minha gente, se eu pudesse voltar no tempo e reencontrar meu pai nem que por cinco minutos, eu gostaria de dizer a ele aquilo que eu aprendi na teologia e que a vida foi me ensinando também - Meu pai, na minha vida eu te amei, não foi por aquilo que o senhor fez de certo nem deixei de amar pelo que o senhor fez de errado, na minha vida, eu te amei por uma única razão, tu és o meu pai. Me dando orgulho, chegando do trabalho, tu és o meu pai. Me pegando no colo, trazendo alegria, me amando, tu és o meu pai. Mas, caído na sarjeta, continuas sendo o meu pai, porque entre o meu coração e o teu há um elo de significado que nenhum erro pode apagar. Eu não consigo esquecer que tu és o meu pai, mesmo quando tudo está dando errado.
É aquela mesma história, daquela mulher que estava parada na casa de detenção, em Taubaté, Presídio de Segurança Máxima. Quando alguém chega perto dela e pergunta: - O que que a senhora veio fazer aqui? E ela disse: - Eu venho ver o meu menino.
O “meu menino” é um dos presos mais perigosos do Brasil. Para mim e pra você. Porque para aquela mulher continua sendo o menino dela.
Isso é o significado, isto é amar mesmo na inutilidade, é a gente nunca esquecer do significado que o outro tem pra nós. Às vezes, nós somos assim, deixamos de amar os pais da gente por aquilo que fizeram de errado.
O seu pai pode ter sido um fracassado como seu pai, pode nunca ter causado orgulho ao seu coração, mas nunca se esqueça! Mesmo fracassado, ele é o teu pai. Não pode morrer sem olhar nos teus olhos e sem descobrir isso.
Às vezes, nós amamos as pessoas e deixamos de amar muito facilmente. Não permita que isso aconteça com você! E nem permita que o teu coração caia no descrédito no momento que você não consegue acertar. Você é muito mais do que isso!
Quem gosta de condenação é o Diabo. Ele que fica parado nas esquinas da nossa vida, nos fazendo olhar para o passado e nos acusando daquilo que passou, daquilo que a gente não deu conta. E você está assim de representantes do Diabo na sua vida, de pessoas que te acusam todas as horas. Esses nem tem feriado pra eles. Estão de plantão o tempo todo, para nos desanimar, para colocar em nós uma imagem negativa sobre nós mesmos. Pessoas que nos fazem piores do que somos. Estes são os mandantes do demônio o tempo todo. São os falsos amigos, querem nos ver eternamente caídos na sarjeta, e que sempre têm uma condenação a mais pra nos oferecer.
Eu não quero ser uma pessoa assim, nem gostaria que você fosse.
Porque enquanto o Diabo fica parado mostrando o que a gente não fez ou o que a gente fez de errado. Deus segura na nossa mão e nos faz olhar pra frente e só nos diz assim: - Olha só o que você ainda pode fazer de bom! Ao invés de ficar parado ao que você não conseguiu, prenda-se, ao que você ainda pode fazer.
Você pode ter sido um péssimo filho até o dia de hoje e nunca ter amado seus pais pelo significado deles, mas você pode amar a partir de hoje. É só olhar o significado e esquecer um pouco os defeitos!
O casamento pode está degringolado por causa disso. Esqueceram o significado que um tem pro outro. Começaram a se odiar por aquilo que os outros faziam de errado. Não! É Deus que nos fala, que Ele ainda espera por nós.
E se Deus ainda espera por você, quem sou eu pra não esperar agora? Se você que é pai, sabe que Deus ainda espera pelo seu filho, quem é você pra não esperar agora? Se Deus ainda acredita no seu filho, mesmo perdido nas drogas, mesmo caído na prostituição, se Deus ainda acredita nesse menino e nessa menina, quem é você pra duvidar agora? E se hoje Deus pudesse, quem sabe, ou ser surpreendido por você, eu tenho certeza que Deus olharia pra nós e nos chamaria assim: São meus meninos!
Eu olho pra você e não quero ver outra coisa, senão, meninos e meninas de Deus, que Ele ama, que Ele tem predileção e que Ele não se cansa nunca.
Você vale à pena! Ainda tem jeito pra você. Porque Deus ainda acredita em você!