O sentido da vida: não há pergunta que... Rubem Alves
O sentido da vida: não há pergunta que se faça com maior angústia e parece que
todos são por ela assombrados de vez em quando. Valerá a pena viver? A gravidade da
pergunta se revela na gravidade da resposta. Porque não é raro vermos pessoas
mergulhadas nos abismos da loucura, ou optarem voluntariamente pelo abismo do
suicídio por terem obtido uma resposta negativa. Outras pessoas, como observou
Camus, se deixam matar por ideias ou ilusões que lhes dão razões para viver: boas razões
para viver são também boas razões para morrer.
Mas o que é isto, o sentido da vida?
O sentido da vida é algo que se experimenta emocionalmente, sem que se saiba
explicar ou justificar. Não é algo que se construa, mas algo que nos ocorre de forma
inesperada e não preparada, como uma brisa suave que nos atinge, sem que saibamos
donde vem nem para onde vai, e que experimentamos como uma intensificação da
vontade de viver ao ponto de nos dar coragem para morrer, se necessário for, por
aquelas coisas que dão à vida o seu sentido. É uma transformação de nossa visão do
mundo, na qual as coisas se integram como em uma melodia, o que nos faz sentir
reconciliados com o universo ao nosso
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redor, possuídos de um sentimento oceânico, na poética expressão de Romain
Rolland, sensação inefável de eternidade e infinitude, de comunhão com algo que nos
transcende, envolve e embala, como se fosse um útero materno de dimensões
cósmicas. "Ver um mundo em um grão de areia / e um céu numa flor silvestre,/
segurar o infinito na palma da mão / e a eternidade em uma hora" (Blake).
O sentido da vida é um sentimento.