Tu, com dúvida me invades. Não há... Fernanda Furini
Tu, com dúvida me invades.
Não há minutos compensativos que me possam saciar.
Essas semeaduras ortográficas cessarão, se a energia que as forma não tocar, de fato, a tua pele e o teu ar, aos quais se destinam.
A imaginação me retalha. Amplia a presença da tua ausência!
Acúmulos de acúmulos me habitam.
Gritos contidos.
Olhar canino amedrontado busca o escuro nas cortinas guindadas de minhas pálpebras cansadas.
Em mim mora o cão carente de rua e o leão predador e selvagem.
Assim, antiga rixa animalesca faz-se dentro de mim.
E, contrariando o óbvio, é o cãozinho que te devora, enquanto o leão apenas observa de longe, não ousando atacá-la para simplesmente saciar seus desejos predadores. Meu coração canino é teu, e torna-se grande para te devorar com amor.
Ahhh... faminta de ti!
No coração em prantos guardo o teu renegado... meu legado sentido.
Rótulos confundem minha mente abstraindo-me de ti.
Sou tua afinal? Devo-te manter única habitante de mim? Para qual fim?
Dei-te meu amor. Presente da alma embrulhado em papel carmim...vivo!
Papel machê embebido em sangue vivo.
Pulso por ti.
Umedeço quando o vento usa teu perfume.
Vento quente em pleno inverno! Traz-me notas de sândalo esmagado com teus pés de aço.
Incandesco quando ele me traz você.
Vento, faz-me um favor, leve contigo a minha memória epidérmica.
Dê-me terreno fértil para o plantio prematuro que insisto em regar.
Não quero beijos que encaixam e escassam.
Não quero o gemido perfeito da voz que recusa-me ao pé da minha alma.
Náo quero o lambusar-me no gosto que me gosta vez ou outra.
Mel de infernal doçura!
Magia negra da qual sou vítima consentida de nós.
Bruxaria de macabro encanto.
Renego-me quando vivo-te uma noite toda!
Piso-me para tocar teus pés de veludo.
Engato-me em ti de uma forma que mal sei voltar. E para que voltar?
Misturo a tua saliva na minha. Alquimia que fermenta em perfeição embriagante.
Ahhhh... maldito sentimento!!!
Coração pasmo, ridículo, insano!
Cravar as unhas e abrir caminho até teu coração?
Não! Unhas tem bactérias! Minha mente hipocondríaca não me permitiria. Tampouco meu coração anarquista, mas correto.
Então, ouso aranhar as tuas costas, com a vontade de que entre em mim. Puxo-te para mim com a fúria de um coração magoado pelo prazer que me proporcionas.
Ohhh... sou tão humana!
Tao patética e carnal.
Tão passionalmente emocional!
Olhei-me, de relance no vidro da vitrine embaçada. Olhos de introspectivo luto. Olhar de partida.
Vou-me.
Ahhh... e vento, por favor, ajude-me a respirar toda a vez que eu tiver que partir dos braços dela.